Meu pai avô


Por Célio Barcellos
Neste dia dos pais, lembro-me com saudades do meu avô. Ele, juntamente com a minha vovó assumiram a minha criação. 

A minha mãe muito simples, do sertão de Itaúnas/Conceição da Barra-Es, se envolveu com um jovem mais novo em Pedro Canário/ES e acabou engravidando. Se fosse nos dias atuais, muitos conselhos demoníacos surgiriam para que ela abortasse. 

Nos relatos de minha mãe, um medo enorme passou por sua mente em virtude da possível reação negativa por parte dos meus avós.  No entanto, eles a aceitaram comigo em seu ventre. 

Minha mãe na cozinha do Restaurante Santo Antônio em Pedro Canário/ES

À medida em que eu crescia, me lembro de algumas vezes ter ficado triste e até mesmo chorar. Não sei se por falta do pai, pois o meu saudoso vovô procurou dentro da sua simplicidade, suprir essa falta. Me recordo do dia em que me escondi enrolado numa esteira por detrás da porta e desabei em lágrimas. Eu estava com muita saudade de minha minha mãe. 


O meu vovô sempre me tomava pelos braços e muitas vezes me punha assentado em uma de suas pernas. Com o seu jeito simples, ele passava a sua barba em meu rosto e eu caia na gargalhada em função das cócegas. Era muito divertido! 

Após um tempo em Pedro Canário, retornamos para Itaúnas. Foi uma certa luta, pois eu tinha um amigo chamado Juracy, (vulgo Solteiro) que era como um irmão. O único problema é que brigávamos todos os dias. 

Já de volta a Itaúnas, a saudade logo passou. E como não passar em meio àquele paraíso? Um ambiente maravilhoso! O meu lar com vovô, vovó e a linda Vila, de rio, dunas e mar, era tudo o que eu precisava. Sem contar os novos amigos... 

À medida em que eu ia crescendo, o meu avô me levava junto para caçar, cortar lenha (à época não tínhamos fogão a gás) e fazer suas visitas na casa dos parentes e conhecidos. Essa é uma característica que herdei do vovô e da vovó: visitar pessoas. Dificilmente as pessoas me visitam. Até mesmo ligações de algum parente ou conhecido são raríssimas para mim. Porém, sempre gostei de visitar. (Veja aqui um pouco de minha infância)

O meu vovô tomava umas cachaças de vez em quando (kkkkk). Não sei se era a famosa Caninha 51, mas não era uma boa ideia. E engraçado que atualmente moro na terra da 51. 

Apesar dele beber e a minha vó também, nunca me ofereceram ou me incentivaram a tal hábito. Pelo contrário, tinham o maior cuidado para que eu não me envolvesse em coisas erradas. 

Teve um dia que foi até cômico. Era a Festa do São Benedito e os foliões estavam na Vila. O meu avô como sempre ia e me levava junto. Muitas vezes eu saia para outras partes da Vila e ele continuava conversando entre amigos e tomando suas “biritas”. Após um tempo nas festividades já esvaziado das pessoas, eu me recordo de ver o meu vovô bêbado. O local era o "Boteco" do Sr. Antero. Organizador da festividade. 

Nesse período, acho que eu tinha entre 11 e 12 anos de idade. Ao ver o meu vovô naquele estado ébrio, o abracei e falei: “vamos para casa vovô!” Naquele momento, ele se levanta buscando apoio na minha pessoa. Fomos caminhando e cambaleando para lá e para cá. Ele ria que só… E eu caia na graça também. Como Itaúnas não tem calçamento, as ruas são de terra e grama. Isso por um lado é bom para evitar danos maiores numa possível queda. Em determinado momento, próximo à casa do Bernabeth Maia, não teve jeito, foi um tombo bonito. Meu avô bêbado, se escorando no neto e juntos fomos ao chão. Pense nas gargalhadas!
Local em que conduzi o meu vovô ébrio para casa

Foi um momento tão divertido que caídos na grama e olhamos para a nossa casinha de estuque. Naquela época, não tinham tantas casas e a vista favorecia. Eu disse para ele: "Já está perto vovô, vamos...". Ao chegarmos em casa era só risadas. Logo ele foi dormir. 

É isso! Tenho mais coisas para contar do meu saudoso pai. Mas, no momento está bom. De fato, o meu avô foi um pai para mim. Quando por volta dos 15 anos decidi ir morar com a minha mãe em Conceição da Barra, foi um baque para mim e para eles. A decisão dolorosa foi importante para os rumos que escolhi. 

Só para concluir, toda vez que o meu vovô ia de Itaúnas retirar o dinheiro da aposentadoria em Conceição da Barra, ele passava na Casa Lotérica para falar comigo. Porém, hoje entendo que aquela era mais do que uma simples visita. Era orgulho para ele ver o neto trabalhando. Eu me lembro que todo cliente que chegava, ele dizia assim: "Esse é o meu neto". Ou seja: super orgulhoso de me ver trabalhando. 
Ele ficaria muito feliz em conhecer os bisnetos

Termino este texto em lágrimas de saudades do meu velho pai. Obrigado Deus por ter colocado o Sr. João Barcellos em meu caminho! Ele era conhecido como João Pequeno. 

Como cristão e na crença na ressurreição por ocasião do retorno de Jesus, tenho a esperança de rever o meu vovô, a minha vovó e os queridos que se foram (1Tessalonicenses 4:13-17).

Talvez escrevo para alguém que esteja neste momento chorando de saudades do seu avô ou do seu papai. Ou talvez para alguém que tenha sido abandonado pelo pai. Alguém que tenha ficado órfão e o único recurso para a sobrevivência foi um orfanato, uma família, um parente próximo ou até mesmo um desconhecido que te assumiu como filho. Eu quero dizer para você: Olhe para frente! Deus quer realizar grandes coisas através de você. 

Para ficar ainda mais emocionante, quando ia finalizando a digitação, eis que meu filho mais velho me dá um abraço de Feliz dia dos Pais e a minha pequena pré-adolescente também recheada de presentes vindos da Igreja e da Escola para esse momento tão especial. 


Obrigado Deus pelo privilégio de ser pai! 

Um feliz dia dos pais! 

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Comentários

  1. Pastor querido não conhecia sua história, é muito legal ver como se lembra com carinho de seu pai avô.
    Tenho a mesma esperança que vc encontar meu pai na manhã gloriosa.
    Detalhe Vem me visitar?(Rita)

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  2. Parabéns pelo seu dia!!!!

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  3. Quando se conhece a história de um homem, muita coisa se vê, mas a principal é como Deus usa vasos frágeis, humildes, para transformar em vasos de bençãos. Se tu uma benção também aos seus filhos!

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