Conceição da Barra - linda mulher que está machucada II


Por Célio Barcellos
Há menos de uma semana escrevi um texto acerca de algumas coisas que notei em Conceição da Barra. O objetivo do texto foi levantar discussões. Afinal, são nas opiniões que as ideias surgem. Todos os anos visito a Barra. E visito mesmo! Nestes 28 anos de posse do meu título de eleitor, nunca quis transferi-lo do município, exceto a partir deste ano, quando decidi fazer a transferência por respeito ao lugar que me acolhe.
O brasileiro tem dificuldade de mudança. No que se refere a política por exemplo, muitos vestem a camisa de determinado candidato ou partido como se fosse time de futebol ou até mesmo religião. Haja vista o fenômeno da última eleição quando o país se dividiu entre “eles" e “nós”, quando até mesmo famílias e amigos se distanciaram. 
Política não é para isso! O cidadão é um ser livre e precisa se libertar dos mandatários que por décadas tem influenciado as massas e que em muitos lugares da Federação, só aumentam a pobreza e a miséria. O cidadão barrense precisa olhar um pouco além. Confesso que havia parado de opinar sobre política, mas decidi escrever essas percepções acerca do meu lugar. 
Ao olhar para a Barra nas últimas 3 décadas, percebo avanços e retrocessos. Conhecida como a Princesinha do Norte, no auge dos carnavais que arrastavam 200 mil pessoas em cada edição, (para uma cidade de 25 mil habitantes). Naquele período, empresas como: BARRAPESCA, FRIESP e Jandira Guerra, empregavam centenas de moradores. Também funcionavam Capitânia dos Portos, Coletoria, Colônia de Pescadores, ACESITA, além das tradicionais Alcon e Disa (essa última falida). 
As conversas dos anos 90 eram de que a cidade possuía o terceiro maior carnaval de rua do Brasil, perdendo apenas para Salvador e Olinda. Atualmente, a Vila de Itaúnas, famoso balneário do município detém o título de Capital Nacional do Forró Pé de Serra. No auge dos anos 90, de fato, músicas como "Amor de Verão" (Banda Auê) e as cantadas por Detinho da Banda Revelação tiveram projeção nacional. 
Foto: Mário Viegas
Não quero que o leitor sinta-se um saudosista e a venha se deprimir com nostalgias  de coisas que não voltam mais. Até porque, bem como disse Heráclito: “O ser não é porque está sempre sendo”. Talvez Conceição da Barra não terá mais 200 mil pessoas por edição de carnaval em suas ruas, pois a concorrência aumentou, forçando outros municípios investir em seus balneários. No entanto, ela pode mapear o perfil de quem a visita e propor atrativos para o ano inteiro e ter muito mais do que 200 mil visitantes. 
Particularmente, acho que aquelas multidões dos anos 90 não agregavam muita riqueza para a cidade. Me parece que havia mais prejuízo do que lucro em todos os sentidos. Desde sujeira nas ruas, brigas, uso de drogas e muito barulho.  Seria interessante uma mensuração do impacto social acerca desses tipos de eventos.
Este ano, por motivo de força maior, não foi possível passar a virada de ano em Conceição da Barra. Mas noto há alguns anos, um alto número de famílias e pessoas diversas agregando um turismo diferenciado que gera mais lucro ao comércio. Praças e feirinhas repletas de pessoas. Sem contar que é menos barulhento em comparação aos trios elétricos que invadiam as ruas da cidade. 
Parabenizo empresários como Roberto Malacarne que tem se juntado a outros e com o apoio da Prefeitura criaram o Festival Gastronômico em Conceição da Barra. Iniciativas como essa movimentam a economia e colocam o município no radar turístico. Segundo o site www.setur.es.gov.br, em 2017, Conceição da Barra ficou entre as 10 mais procuradas do Estado, levando em consideração os perfis entrevistados. 
Esse potencial turístico o município tem e deve ser muito mais explorado. Uma coisa precisa entrar na mente dos gestores: Os moradores não vivem somente do turismo. É preciso algo mais! Se no início dos anos 90, o município era mais protagonista, imagino que poderá voltar a ser. O que foi pensado para substituir as empresas falidas? O que está sendo pensado para o emprego e para a educação, já que muitas profissões estão sendo extintas e a economia está na transição do industrial para o virtual?

Desenho do jovem artista barrense Kairos Álef Avido Barcellos, retratando o Casarão do Cais, antigo Trapiche.
O que está sendo pensado para os próximos 30 anos? Há 3 décadas, a Bahia Sul Celulose quis se instalar no município e a visão do gestor municipal à época não foi empreendedora, porém, mesquinha e festeira. Imagino que o município perdeu bastante. Graças a Deus que muitos barrenses se qualificaram e entraram na empresa, mesmo instalada em território baiano. Muitos já estão desfrutando da merecida aposentadoria. 
Não adianta agora culpar fulano, beltrano ou sicrano, o importante é olhar além, sem deixar de lembrar do que não deu certo para não voltar a se repetir. 2020 é ano eleitoral e como você votará? Continuará a escolher por amizade ou favores? As estimativas são as de que 1 milhão de pessoas se candidatarão no Brasil. Imagino que na Barra a quantidade de candidato será enorme, pois a política tornou-se em cabide de emprego.  
Espero que o atual momento político nacional tenha despertado o eleitor barrense. Não dá mais para aceitar mensalões e petrolões. Até mesmo o atual presidente que se elegeu com o forte discurso contra a corrupção, se o mesmo se envolver em tal delito, o povo tem por obrigação não reelegê-lo. Chega de paixões por candidatos! Não morra por eles! Dê a vida por sua família. 
Pense bem em quem vai votar. Avalie direitinho, pois você elegerá pessoas que de uma hora para outra, começará a ver dinheiro que nunca viu na vida. Elas trabalharão com orçamentos milionários. E se o indivíduo não consegue administrar o orçamento doméstico, como administrará o público? Tem pessoas no Brasil que estão nas mãos de bancos, financeiras e até mesmo de agiotas e ainda querem administrar os recursos destinados aos nossos filhos. Comece a pensar nisso! Pare de exigir emprego na prefeitura e comece a exigir oportunidades. E se esforce para as oportunidades! 
Pintura acrílica artista barrense Kairos Álef A. Barcellos
Ainda sonho em ver a Barra com mais oportunidades para os barrenses. Alguém que enxergue a Barra para o mundo. Que olhe para a nova geração com esperança. Mas que faça algo nesse sentido. Que não esteja satisfeito em ver jovens perdendo o futuro envolto a coisas que destroem a vida. Que não esteja satisfeito com a economia, mas que crie meios para aumentá-la e enriquecer a sua gente. E o que os pais assumam a educação dos seus filhos. A culpa não é somente do poder público.
A Barra continua linda, porém percebo alguns machucados nela. E se não forem tratados achando que todo lugar é igual, poderá desenvolver feridas difíceis de cicatrizar, causando gangrena e até amputação. Os últimos 30 anos mostraram indicativos dos problemas atuais. Se os políticos viraram as costas, o preço está sendo alto para saná-los. Nas últimas gestões, houve muitos avanços na área de saneamento, pavimentação e embelezamento da cidade, mas acho que falta uma atenção à juventude e sua qualificação. 
Que a próxima geração de políticos trabalhe para o cidadão assim como trabalha para os filhos. Que olhe o município como um todo. Para daqui a 30 anos, quando todos desfrutarem da aposentadoria, estejam orgulhosos não somente dos filhos e dos netos, mas dos barrenses que também geraram netos, para avós mais que orgulhosos. 
Daqui a 20 anos, se Deus me der a oportunidade de desfrutar da aposentadoria, quero viver em Itaúnas, minha terra natal. Dali sai aos 14 anos, com uma malinha de couro deixando para trás a minha saudosa vovó que em lágrimas da janela da nossa simples casinha, acenava não acreditando em minha partida (ler relato completo). Mas precisei sair. Sonho em voltar! Apesar de nunca ter ficado um período sem visitar a minha terra, ainda quero viver como barrense em meu próprio lugar. Que Deus abençoe a nós barrenses! 

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