Quando morre um pastor

 

Imagem: Redes sociais


Por Célio Barcellos
Era o crepúsculo de uma sexta-feira, daqueles que se arrastam preguiçosos para o abraço do sábado, quando o telefone vibrou com uma mensagem que gelou o ar ao meu redor. 

Do outro lado da linha, era o amigo Robis Silva, pastor nas terras frias do sul da Inglaterra, que noticiou o que ninguém quer ouvir: João Nicolau, pastor do sul do Brasil e amigo de longa data havia partido. 

Aos 45 anos, sua vida foi ceifada num acidente automobilístico cruel, deixando para trás a esposa e duas filhas, cujos risos agora ecoam num silêncio ensurdecedor.

Ah, como se fosse ontem, vejo João Nicolau nas campanhas de colportagem em Santa Catarina, com aquele brilho nos olhos, aproximando-se de mim e dizendo: "Célião, vamos voltar para o Seminário". 

Ele insistia, sabendo que eu havia iniciado o curso no UNASP em 1999, mas o trancara por caminhos que a vida impõe. 

João era assim: um farol de esperança, um cristão autêntico que irradiava luz mesmo nos dias nublados. Sorridente, trabalhador incansável, nunca feriu uma alma sequer. 

Cada encontro com ele era um bálsamo – um sorriso largo, adjetivos carinhosos e superlativos que faziam o coração se aquecer, como se o mundo fosse um lugar mais gentil só por sua presença.

Lembro-me vividamente do dia em que ele e Diógenes chegaram à campanha de colportagem, cheios de energia e fé, prontos para espalhar a palavra como sementes ao vento. 

Eram tempos de luta e comunhão, de noites longas e conversas que alimentavam a alma.
Uma das fotos em Santa Catarina - O João não está na imagem 

Ao telefone, conversei com Paulo Godinho, pastor na Zona Sul de São Paulo, sobre esse trágico acidente que nos roubou João. 

Godinho fora seu líder em quatro campanhas de colportagem, e sua voz, embargada pelo choro, traía a dor profunda de quem perde um irmão de jornada. 

Relembramos as histórias boas: as risadas compartilhadas, as vitórias pequenas que se tornavam grandes na memória. Ao final, unimos nossas vozes numa oração sussurrada, pedindo conforto para a família e forças para o ministério que segue órfão de sua presença.

Em se tratando do Robis, na conversa inicial, ele compartilhou uma memória que apertou ainda mais o peito: uma atitude solidária de João Nicolau durante os tempos no UNASP. 

Naqueles dias, quem atrasava a mensalidade via o cartão bloqueado, perdendo o acesso ao refeitório – uma fome que ia além do estômago. 

João, com o coração generoso, emprestava o seu cartão a Robis, quantas vezes fossem necessárias, para que o amigo pudesse se alimentar. 

Uma baita generosidade, daquelas que revelam o verdadeiro caráter de um homem, ecoando o amor cristão em gestos simples e profundos.

Infelizmente, João Nicolau não chegou para mais um culto de pôr do sol com a família. 

O sol se pôs para ele de forma abrupta, deixando um vazio que pulsa como uma ferida aberta no coração de quem o amou. 

Enquanto Jesus não retornar, esse vazio nos acompanhará – uma saudade que dói, mas que também nos lembra da brevidade da vida e da eternidade prometida.

Venha logo, Jesus! Nós precisamos de Ti para secar essas lágrimas, para reunirmos os que partiram e vivermos para sempre, num mundo onde a morte não mais ceifará pastores e mais ninguém, muito menos sonhos (Apocalipse 21:1-4)

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