A glória em Pessoa

 



Por Célio Barcellos 

A perspectiva do evangelho de João é exaltar o "Verbo" divino na Pessoa de Jesus Cristo, alimentar a igreja com a essência da salvação e precavê-la dos perigos iminentes contra a fé. O interessante é que 92% do que João escreveu não constam nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). 

Algo importante a se observar é que, nos milagres, Jesus chama a atenção do povo para a chegada do Reino ao revelar a glória de Deus, afinal, esse era o centro da pregação de Jesus - o Reino de Deus. 

O teólogo Joaquim Jeremias menciona que Jesus Se estabeleceu na Galiléia, pois naquela região se encontrava uma população mais “mestiça" e totalmente discriminada pelo povo da Judéia. 

A linha de estudo de (JEREMIAS, 2008) é acerca do passivo divino. O passivo divino era uma forma encontrada pelos judeus antes do advento do cristianismo com a finalidade de “excluir todo abuso do nome de Deus”. 

Havia o costume de valer-se do uso “de perífrases para expressar a ação e os afetos de Deus”, sem mencionar o Seu nome. 


Em contraposição a esse entendimento judaico, Jesus, segundo (JEREMIAS, 2008), “usou desembaraçadamente a palavra ‘Deus’, mas aderiu em larga escala ao costume de seu tempo, de falar do agir de Deus” também em perífrases. 

Ou seja: Ele não poupou vocabulário para revelar Deus às pessoas. 

O que seria esse recurso em perífrase? perífrase é um recurso estilístico que consiste em exprimir por muitas palavras aquilo que poderia ser dito em poucas. 

Isso quer dizer que Jesus não ficou restrito a um vocabulário escasso ao falar de Deus. Ele revela o Pai com satisfação. Com abundância nas palavras. 
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Esses capítulos iniciais do evangelho de João é a maneira pela qual Jesus revela Sua divindade ao realizar o milagre numa festa de casamento (Jo 2:1-11), a cura do servo de um oficial romano (Jo 4:46-54) e a cura do paralítico em Betesda (Jo 5:1-9). 

Nesses milagres, bem como em outras ocasiões tanto no evangelho de João quanto nos sinóticos, Jesus exercer a voz ativa sobre o mal. 

Contudo, na maioria esmagadora das vezes, Ele faz questão de exaltar o Pai e sair de cena. O teólogo Joseph Ratzinger menciona que o “homem Jesus é a tenda armada do Verbo, do eterno Logos divino, neste mundo”. Em outras palavras, Ratzinger quer dizer que o Filho de Deus, título que se refere à divindade de Jesus, revelou-Se ao Se encarnar no homem Jesus de Nazaré. 
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Portanto, quando Jesus, na maioria das vezes exalta o Pai, Ele está cumprindo o acordo pré-estabelecido antes da fundação do mundo: o de Se submeter à vontade de Deus. O Apóstolo Paulo chega a dizer que Jesus Cristo “mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus…” (Fl 2:6). 

Essa atitude de humildade de Jesus mostra a porta de entrada para toda pessoa que quer viver no Reino de Deus. Ou seja: quem anseia entrar no Reino, precisa morrer para o “eu”. Precisa ser pastoreado por Jesus e aceitar as regras do Reino. 

O Filho de Deus e Jesus de Nazaré coexistirão por toda eternidade. As duas naturezas, divina e humana permanecerão para sempre, pois esse jeito misterioso de manifestar a glória em Pessoa, foi o meio pelo qual a Divindade escolheu para salvar o ser humano. 


REFERÊNCIAS

Jeremias, Joaquim, Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 38-45.

Ratzinger, Joseph, Jesus de Nazaré: a infância. São Paulo: Planeta, 2020, p. 19.

Comentários

  1. "Essa atitude de humildade de Jesus mostra a porta de entrada para toda pessoa que quer viver no Reino de Deus. Ou seja: quem anseia entrar no Reino, precisa morrer para o “eu”. Precisa ser pastoreado por Jesus e aceitar as regras do Reino." - que linda reflexão!

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