Política e assassinato

 

Por Célio Barcellos

A tentativa de assassinar Donald Trump diante de milhares de seus apoiadores na tarde deste sábado (13) reflete os posicionamentos radicais no contexto da polarização política atual. 

Grande parte dessa polarização pode ser creditada aos meios de comunicação que de certa medida têm abandonado a informação e se posicionado de maneira mais opinativa, quase como um fã clube que promove conteúdo ideológico em formato storytelling na transmissão das narrativas. 

O papel do jornalismo deveria ser o de informar e deixar o público interpretar os fatos. Claro, que, há espaço para opinião, no entanto, o que se vê atualmente são profissionais da imprensa criando enredos para manipular a informação. 

Se tão somente, os profissionais da imprensa trabalhassem os conceitos de “definição” e “descrição”, a verdade dos fatos estaria sendo defendida pelos meios de comunicação com maior isenção, ao considerar as equivalências nos princípios dos discursos preestabelecidos. 

Contudo, o que parece transparecer é que em função de verbas recebidas para o sustento dos veículos de informação, as notícias saem enviesadas com propósitos claros de uma agenda organizada que nos faz de certa forma enxergar as coisas um tanto tortas.  

Há veículos de imprensa, tanto na mídia tradicional quanto na internet que procuram sentenciar situações que não são verídicas e se utilizam de tempos verbais e conjunções adversativas a fim de atenuar os fatos. 

Talvez, os meios de comunicação devessem ouvir um pouco Alfred Tarski (um dos principais lógicos do século XX) quando o mesmo aborda a "antinomia do mentiroso" e diz da sua importância para a elaboração do "ponto de vista" e da contradição do mesmo. 

Tarski leva tão a sério essa antinomia que para ele, não se deveria deprecia-la como sofisma (A Concepção Semântica da Verdade", São Paulo: UNESP, 2007, p.167,168).

Por conseguinte, parece que os meios de comunicação tem de fato se utilizado de sofismas a fim de deliberadamente induzir erros sobre os consumidores de notícias. No jargão popular seria a utilização de má fé para enganar as pessoas.  

O grande problema na atualidade é que a política que se utiliza de pessoas fracas mentalmente capazes de executar adversários também ganhou um aliado poderoso chamado jornalismo ideológico que se coloca à disposição para o assassinato de reputações. 

Se o jornalismo não fosse nem de direita e nem de esquerda, o público ganharia com isso, pois as autoridades políticas, judiciárias e empresariais pensariam mais vezes antes de qualquer tentativa de usufruir os meios de comunicação para domínio. 

Quem dera fossemos versados em lógica, gramática e retórica para pelo menos compreendermos melhor as coisas! Certamente, os profissionais da comunicação e até mesmo do direito que inundam os meios de informação levariam mais a sério e com bastante responsabilidade as linguagens da retórica e não os sofismas. 

Ao levar em consideração os conceitos de “definição” e “descrição” o que se vê atualmente é uma inversão de valores capaz de invalidar a verdade imutável em função de sentimentos e paixões doentias por algo insustentável. 

O professor Mário Carbonero do Instituto Hugo de São Vitor explana com propriedade os quatro tipos de descrições utilizados na retórica. A topografia; a cronografia; a prosopografia e a etoépica. 

Na topografia ocorre a descrição de um lugar. Ex.: o local em que se encontrava o atirador de Donald Trump era um telhado com tais e tais características e assim por diante. 

Na cronografia, a ênfase é na descrição de um tempo, de um determinado período da história. Ex.: O Estado Novo foi um período de ditadura brasileira. Se porventura, essa descrição não for justa para alguns, ainda assim, ela é uma descrição de um dado período de tempo. 

Na prosografia ocorre a descrição da figura de uma pessoa. A palavra "prosopo" do grego, significa "face".  Ela serve para descrever se a pessoa é branca, negra, cor do cabelo... no caso do Trump, que roupa ele usava na hora em que levou o tiro, o sangue que corre em sua orelha, o seu punho serrado em sinal de resistência etc. 

E por último a etoépia. Aqui é a capacidade de descrever os hábitos de uma pessoa, se ela gosta de assobiar, que tipo de comida ela se interessa e até mesmo os aspectos morais dela. 

Portanto, nesse octógono chamado política, o bom é nos distanciarmos dessa briga para evitarmos "soco" e "bala perdida". 

O fato é que a democracia está em ruínas. E quem está tentando salvá-la, parece estar caminhando com uma única muleta e conduzindo-a com um único olhar para um abismo sem fim. 

Tal qual disse Sandel: existem "dois medos" na conjuntura atual do planeta. O medo "da perda do autogoverno", aqui é a abordagem que ele faz da perda de "controle das forças que governam nossas vidas", no caso as autoridades e o Estado. E o medo "da erosão da comunidade". 

Neste segundo medo, Sandel fala que "é a sensação de que o tecido moral da comunidade se desfaz diante de nossos olhos, desde a família até a vizinhança e a nação"(Michael J. Sandel, "O descontentamento da democracia", Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022, p.12 livro digital). 

Assim sendo, cumpramos a nossa parte cívica no contexto comunitário e sejamos imparciais e pacientes diante de situações complexas envolvendo lideranças políticas ou qualquer outra situação. 

Uma coisa que devemos no lembrar sempre é que o Único Ser que tem o poder para solucionar as coisas é o Senhor Deus. Para tanto, o  capítulo 2 do livro do profeta Daniel diz que o Senhor está no controle de todas as coisas e solucionará os problemas da Terra. Creia nisso! 

Enquanto fazemos a leitura das coisas e nosso mundo real, oremos pelo Brasil e pelo restante do planeta. 

Que Deus te abençoe! 

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