O Soldado Amarelo e o Cavalo Caramelo


 
Por Célio Barcellos
O incidente envolvendo o resgate do cavalo Caramelo da inundação que toma conta do Rio Grande do Sul, me fez lembrar dos personagens de Graciliano Ramos em Vidas Secas, especialmente do Soldado Amarelo.

No enredo, o Soldado Amarelo é o carrasco de Fabiano. É o Estado opressor e totalitário. 

Fabiano, o retirante que foge da seca em direção à cidade com o objetivo de uma vida melhor é o personagem central que junto com a família quer escapar da seca, da fome e da morte. 

A Sinhá Vitória, sua esposa, é a mulher resiliente, sofredora,  que se mantém firme ao lado do marido, pois não tem aonde cair morta.

Os filhos de Fabiano são o retrato de um Brasil anônimo que o poder insiste em ludibriar com promessas de educá-los, mas que o destino dos recursos não chega nem para registrar o nome deles corretamente e com dignidade. 

Nessa saga protagonizada por Fabiano, a família conta com a presença da cachorra Baleia. Um animal que se torna íntimo da família. Tão íntimo que possui um nome. Tem algo estranho aqui! Os filhos não possuem nomes, mas o animal, sim. 

Será que no contexto atual desta catástrofe no Rio Grande do Sul podemos inferir que na mente de alguns o cavalo Caramelo e a cadela Esperança são protagonistas encima de cadáveres humanos que desconhecemos o nome?

Todo animal merece respeito e cuidado. Isso é um dever do ser humano zelar. Até porque, os animais foram criados por Deus para a alegria e convívio com os humanos. 

No entanto, quando se humaniza seres irracionais a ponto de chamá-los de “filhos e bebês”, enquanto milhares ou milhões de humanos sem nomes nesta Pátria ou nos confins da terra estão a perecer de fome, de frio, por falta de educação e submersos nas águas podres despejadas por um Estado ineficiente e burocrata, parece que tem “algo errado que não está certo”. 

No ideal divino em que haverá um novo céu e uma nova terra, esse tipo de distorção não mais existirá. Isto porque, o egoísmo será banido para sempre e o tão sonhado mundo pacífico acontecerá entre homens e animais, numa simbiose com a natureza (ver o profeta Isaias 65:17-25).

Mas, voltemos ao Fabiano e sua jornada. 

Em meio à miséria e a fome, a família de Fabiano pisa num sertão com cheiro e marcas da morte. A falta de comida e de água faz com que homens e animais sigam o mesmo destino. 

Durante a viagem, eis que surge o fazendeiro. Alguém que emprega Fabiano, mas que o explora como um animal de carga, rouba o seu dinheiro, o deixa repleto de dívidas para o mantém-lo refém e cativo na miséria. 

O fazendeiro representa o capitalismo selvagem; os políticos corruptos; os famosos em suas Madonas ruminando luxo de um hedonismo que não está nem aí para o outro numa Copacabana repleta de pecados.

O fazendeiro também representa os malandros à semelhança de um "Zé Carioca" que rouba, explora e causa terror ao indefeso. Que se aproveitam da desgraça para saquear a propriedade alheia. 

Contudo, nem tudo está perdido, pois há capitalistas sem a índole maldosa do fazendeiro explorador, de Graciliano Ramos. 

Haja vista a rapidez e habilidade que ocorre atualmente no Rio Grande do Sul por parte de capitalistas altruístas, políticos comprometidos e de uma sociedade solidária. 

Pessoas, empresas, atletas, entidades religiosas, agências humanitárias e mais uma multidão de gente que prefere não mostrar o rosto, mas que está a todo vapor dos mais longínquos lugares do Brasil e do mundo ajudando as vítimas e os seus animais de estimação. 

A liderança assumida pelos milionários em socorrer as vítimas no Sul é digna de glória. Eles Mantêm à disposição um arsenal de bens e serviços para auxiliar os gaúchos. Sem contar a força descomunal da sociedade civil em pisar o pé numa água suja e perigosa a fim de socorrer pessoas e animais. 

Os que dizem se importar com Fabiano na defesa do meio ambiente, da educação e de uma sociedade inclusiva desaparecem num momento como este. 

Estes, se quer têm a coragem de tirar do bolso para ajudar os Fabianos. Eles querem que os Fabianos morram, pois a picanha e a cerveja estão garantidas para si e para a prole. Como bem disse Justo Veríssimo: "Pobre tem que morrer!". 

Para essa turma, quanto mais Fabianos na miséria, melhor. Não importa em que polo do País more o Fabiano. Essa turma quer igualar a todos para uma dependência cada vez maior de um Estado falido ética e moralmente. 

Tal qual uma correnteza sem freios, Fabiano não tem saída.  E no turbilhão de seus problemas, ele enche a “cara” de cachaça. 

E num desses momentos ébrios ou influenciado por alguém, eis que ele xinga a mãe do Soldado Amarelo, o cara que representa o Estado. 

A ofensa lhe custa caro, pois a força do Estado o aprisiona e ainda lhe dá umas borrachadas nas costas. 

Lembre-se Fabiano! Um Estado totalitário não aceita críticas e muito menos xingamentos. 

Enquanto o miserável do Fabiano toma uns "goles" para amenizar a sua fome numa caatinga que destrói diariamente a sua família, ele se quer, pode fazer um protesto contra um Estado cruel que vive para criar e aumentar impostos a fim de mantê-lo na miséria. 

Esse pobre miserável sai da cadeia com “sangue nos olhos”, cheio de ira e determinado a qualquer custo para matar o soldado. Ele até toma iniciativa no momento em que o encontra, mas, num lampejo de lucidez percebe que o ato não é sábio. 

É possível que Fabiano tenha se lembrado do Tomás da bolandeira. O intelectual do sertão. Um devorador de livros e de jornais. 

Talvez o Sr. Tomás seja o intelectual do bem. Aquele que auxilia, ao invés de atrapalhar; aquele que abre caminho, ao invés de impedir a passagem do Fabiano para o mundo do saber e da verdade. 

No momento em que mataria o Soldado Amarelo, Fabiano se lembra do seu sonho de consumo - ter uma vida melhor e falar bem à semelhança do Sr. Tomás da bolandeira. 

Enquanto os poderosos e burocratas se matam por poder, continuemos a orar por empresários e empreendedores, para que eles tenham muita saúde e muito mais dinheiro para momentos como esse. 

Em seu livro Patriarcas e Profetas, 535, a escritora Ellen White diz o seguinte: 

Muitos há que insistem com grande entusiasmo que todos os homens deviam ter participação igual nas bênçâos temporais de Deus. Mas isto não foi o propósito do Criador. A diversidade de condições é um dos meios pelos quais é desígnio de Deus provar e desenvolver o caráter. Contudo, é Seu intuito que aqueles que têm posses terrestres se considerem simplesmente como mordomos de Seus bens, estando-lhes confiados os meios a serem empregados para o benefício dos sofredores e necessitados

O texto acima escrito há mais de cem anos é bastante atual para o momento de tragédia em que se encontra o Sul do Brasil e o contexto político em que vivemos. 

O liberalismo econômico não é o melhor dos mundos, pois há muita exploração. No entanto, ainda não se criou algo melhor do que ele. Há pelo menos 200 anos ele conseguiu diminuir a pobreza e a miséria no mundo. 

Enquanto o ideal divino não chega, valorizemos o capital de quem tem o coração solidário e está disposto a gastar milhões para salvar vidas e preservar empregos. 

Parabéns a todos os homens e mulheres deste Brasil que se colocam à disposição em ajudar alguém! Com recursos ou não, mantém um altruísmo extraordinário em socorrer o próximo e suas criações.

Força Rio Grande do Sul! Parabéns a todos os que se doam neste momento! 

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Comentários

  1. Parabéns pelos seus pensamentos e reflexões publicados neste texto. Obrigado

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