Cadáveres ambulantes

 

Por Célio Barcellos

O ocorrido recentemente no Rio de Janeiro, em que uma mulher conduz numa cadeira de rodas o cadáver do seu tio até uma agência bancária a fim de contrair um empréstimo, mostra o nível sepulcral da ética e da moral de uma pessoa. 

Em momentos de desespero, o ser humano é capaz de muita coisa. Porém, chegar a uma situação tão constrangedora como essa é algo para refletir sobre a condição da sociedade. 

Diante disso, eis a pergunta: Será que pelo fato das autoridades deste país não tratarem as leis com seriedade e causarem constante insegurança jurídica, colabora para algo assim? 

Infelizmente, parece que, o que já era ruim no Brasil, ficou pior. 

Será que essa mulher está num estado de miséria tão grande que para obter dinheiro é capaz de desrespeitar o corpo sem vida do próprio tio? Será que ela mesma não está morta submersa em seus problemas? 

É uma atitude um tanto estranha! A mulher conduzir um cadáver para obter ganho. E quantos matam para tirar proveito de riquezas, de bens ou de outras situações? Isso não acontece somente no Brasil é algo meio que universal. 

Parece ser estranho, mas, o que essa mulher fez não é tão diferente do que ocorre pelas bandas de Brasilia e no monte de subterfúgios que o coração humano promove para se dar bem. 

Ao assistir o deprimente vídeo, me veio à mente uma quantidade de políticos que estavam sepultados, mas que com o auxílio de "padrinhos" ou "afilhados" os desenterraram da podridão da sepultura.

Retiraram os vermes que dilaceravam suas carcaças; os revestiram de cera e óleo de peroba; bem como os cobriram com roupas de grife para que no momento das assinaturas não gerasse nenhuma desconfiança de que estivessem mortos.

Diferente da miserável mulher que conduzira o cadáver de uber, metrô, taxi, de ônibus ou outro meio de transporte que a sua condição permitira, eis que os fortes "padrinhos" ou "afilhados" de poderosos que outrora não estavam somente mortos (mas sepultados), chegam nas agências em alto nível conduzindo os seus cadáveres ambulantes sem deixar suspeitas.

Nem passa pela cabeça deles chegarem de transporte público, muito menos em cadeiras de rodas. Eles são sagazes. 

Conseguem pela aparência de um "sepulcro caiado" convencer não só o gerente, mas os funcionários da agência e clientes de que está tudo bem. Não há nenhuma necessidade de chamar a polícia, pois tudo está sob controle. 

Ninguém consegue perceber os cadáveres ambulantes. Estão bem maquiados e firmes em suas pernas e braços mecânicos controlados à distância. 

Contudo, muitos olham assustados, pois reconhecem que eles já estavam mortos, praticamente podres na sepultura. E como poderiam estar ali? 

E, eis que surgem mais perguntas: "aquele, não é o fulano pego com dinheiro na cueca? o outro, não é beltrano apanhado com malas de dinheiro dentro de casa? E, aquele ciclano, não constava na lista de codinomes das empreiteiras que quebraram estatais no país? E aquele outro não é o empresário poderoso que corrompera a muitos?

Um tanto estarrecidos e sem entender, eles procuram o gerente para alerta-lo quanto a um possível golpe, mas o gerente os tranquilizam dizendo que estava tudo certo. Tudo resolvido. 

Sem saberem o que dizer, saem da agência estarrecidos. O mais assustador ainda foi quando do lado de fora viram  artistas, intelectuais, empresários  e muita gente de outras classes do país cantando numa praça e celebrando o retorno de um morto que estava só o pó, mas que a funerária os entregou reconstruído para liderar os demais cadáveres. 

Qualquer semelhança entre a sobrinha miserável que conduzira o seu tio morto até uma agência e os corruptos no país não é mera coincidência. 

Que Deus tenha misericórdia do Brasil! E não custa nada lembrar o verso bíblico: "Não aceite suborno, pois o suborno cega até os que têm discernimento e prejudica a causa do justo" (Êxodo 23:8). 

Que Deus tenha misericórdia de nossas vidas! Oremos para que essa senhora já tenha se arrependido do que fez e que compreenda que os valores do Reino de Deus não têm que ver com corrupção. 

O grande dilema é que provavelmente essa senhora irá presa como informa a lei, enquanto os "padrinhos" e "afilhados" estarão livres e soltos com os seus cadáveres rindo da cara do povo. Com um detalhe! Caçando a liberdade de expressão para impedir que as pessoas enxerguem a quantidade de podridão que se instalou no país. 

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