Projeto Montes Claros, embrião missionário do SUS no Brasil
Por Célio Barcellos
No momento em que os raios do sol invadiram a minha casa nesta segunda-feira de folga e me forçaram a me levantar mais cedo, não me contive inerte sobre a cama para ter o privilégio de olhar da janela e ver a vida em movimento.
As casas silentes, mas ladeadas com o barulho de máquinas que aceleram a construção de um prédio ao lado.
O voo dos pássaros e em seus suaves cantos mostram a alegria primaveril em poder habitar nas copas de árvores felizes com a estação.
A estação primaveril é muito bela. Aqui, na cidade de Jaguariúna por exemplo, há muitos Ipês. E quão magnífico é vê-los em suas matizes floridas em tons de branco, amarelo, roxo, enfim…!
É simplesmente um colírio para o olhar e um bálsamo para a mente!
É como se a natureza limpasse o nosso cérebro das muitas coisas ruins que vemos e ouvimos.
Não sei porque, mas toda vez que ouço "Setembro", lembro-me de duas coisas:
A primeira, é que por atuar como pastor a lembrança remete ao Batismo da Primavera, mês denominado para o batismo dos juvenis que frequentam a igreja.
O mês de setembro é um mês florido comemorado em todo o território da Divisão Sul Americana. Área que corresponde a geografia administrativa da Igreja Adventista para 9 países.
A segunda coisa que me vem à mente, é a música “Sol de Primavera” de Beto Guedes. No entanto, o que tem a ver um cantor secular no texto de um religioso e aspirante a jornalista?
É que a música é uma linda poesia que fala de perdão, natureza e esperança; no que se refere a música, o autor, Beto Guedes é de Montes Claros, local das informações a seguir:
Após os meus momentos reflexivos acerca de Deus, zapeei o celular e me deparei com uma bela reportagem da Globo Minas acerca de um projeto no Norte de Minas que deu origem ao Sistema Único de Saúde (SUS) Veja matéria.
O trabalho pioneiro do enfermeiro e missionário adventista Leslie Charles Scofield Jr. e de sua esposa que deixaram os Estados Unidos e migraram para Montes Claros, de onde partiram para o belo trabalho assistencial entre os ribeirinhos do Vale do São Francisco.
A reportagem chamou-me bastante a atenção pela forma honesta com que o médico João Batista Silveira aborda o Projeto em respeito ao trabalho daquele missionário.
Normalmente, as pessoas evitam dar o crédito ao trabalho desenvolvido por religiosos. No entanto, além de Silveira creditar o trabalho do missionário, ele divide o Projeto Montes Claros em três partes:
1. O trabalho iniciado pelo enfermeiro Scofield Jr. a bordo da lancha Luminar I na extensão de Pirapora a Juazeiro prestando assistência junto a população ribeirinha.
2. A Tese Doutoral de Scofield Jr. propondo a sistematização regional de saúde para o Norte de Minas. E isso envolveu o trabalho prático.
3. O afunilamento do Projeto Montes Claros para a Constituição de 1988, quando se inicia a criação do SUS. Ou seja: para os profissionais da saúde e autoridades do Norte de Minas, o Projeto Montes Claros foi o embrião do SUS.
O trabalho iniciado pelo enfermeiro e missionário Scofield Jr. foi tão expressivo para o Norte de Minas que a região de Montes Claros é a única no Brasil a ter projetado dois Ministros da Saúde.
São eles: Agenor Alves Silva, que chega a dizer que, o “Projeto Montes Claros foi onde deu início a todos os principais mandamentos, hoje do SUS”;
e José Saraiva Felipe, que menciona que “não há nenhum país com menos de 100 milhões de habitantes [possuidor] de um Sistema de Saúde como nós temos”.
A partir desses depoimentos fiquei a meditar na importância de um missionário na vida de um País. Leslie Charles Scofield Jr. não somente contribuiu com a transformação da realidade da saúde do Norte de Minas, mas também do Brasil.
Isso mostra o indispensável valor do trabalho e seriedade das missões.
Quão grato por exemplo devem ser os indianos ao descobrirem que no Séc. 18 um missionário batista chamado William Carey conhecido como o "pai das missões modernas" mudou a realidade local ao convencer os aldeões a não mais sepultarem vivas a viúvas que obrigatoriamente faziam parte do ritual fúnebre um tanto macabro!
Pois é, há muitas entidades semelhantes à Igreja Adventista que prestam serviços extraordinários para a população do planeta.
Muitas vezes, gera certa ofensa quando pessoas desinformadas e até mesmo preconceituosas tentam desqualificar trabalhos sérios desenvolvidos em prol do semelhante.
É possível que por birras ideológicas muitos projetos sérios são descontinuados em locais de difícil acesso por causa de preconceito religioso.
A matéria da Globo Minas mostra a sistematização dos serviços de Saúde no Brasil.
Porém, muito antes disso, já ocorriam em locais diversos outras iniciativas em prol dos ribeirinhos, como é o caso do também casal missionário adventista Léo e Jessie Halliwell singrando o rios da Amazônica com a Luzeiro.
Me parece que os batistas desenvolvem trabalho semelhante nas águas do São Francisco há algum tempo também.
Contudo, há de se convir que o trabalho de Scofield Jr. é singular pela sistematização através de sua Tese doutoral colocada em prática.
O que essa linda história nos mostra é que o serviço abnegado está além de preferências ideológicas.
Enquanto os ideólogos tentam dividir a sociedade de uma maneira um tanto maniqueísta, há pessoas como Scofield Jr. que propõe soluções através do amor prático ensinado por Jesus.
Normalmente, quem briga por ideologias foca somente em criticar os países ricos sem jamais mencionar os benefícios humanitários enviados por eles.
É preciso ser honesto nos “pesos e contrapesos”.
O que essa linda história do missionário adventista no Norte de Minas mostra é que um religioso comprometido em sua missão pode fazer muita coisa por uma sociedade.
Haja vista que em se tratando de medicina, a primeira escola do gênero foi implantada no século 9 na Europa, com a criação da Escola de Salerno.
Essa escola surge em um Mosteiro Beneditino. Ou seja: religiosos que deram início a uma Escola de Medicina.
Sem contar que os islâmicos já se destacavam na área da medicina muito antes da civilização ocidental.
Portanto, ao invés das pessoas se digladiarem por causa de ideólogos que muitas vezes não estão nem aí para elas, é preciso se conscientizar mais sobre a importância do serviço ao semelhante.
Procure notícias mais alegres sem o viés sanguinário da política e sem as intenções ideológicas. E, se eu pudesse te aconselhar sobre algo, eu diria o seguinte:
ao chegar em sua casa hoje do trabalho, reúna a sua família e pergunte sobre a sensação que cada um teve do dia que passou.
Se porventura, você perceber que a mente deles ou até mesmo a sua não capturou sensações contemplativas, procure criar esse hábito, pois parece que estamos perdendo a capacidade em observar as coisas e de valorizar o que Deus nos deu e até mesmo de agradecer as pessoas importantes em nossa vida e na vida da sociedade como um todo.
Crie na mente de seus filhos o desejo de servir ao semelhante. Há muitas agências humanitária no Brasil e espalhadas pelo mundo.
Independente de religião que você e sua família possam tirar um tempo das férias e ajudar alguém com a profissão que possuem.
Quem sabe um de seus filhos desenvolva o mesmo sentimento missionário que teve Scofield Jr e tantos outros profissionais da saúde ou de outras áreas que saíram de seus países e foram ser úteis em algum lugar do planeta!
Sabe prezado leitor e distinta leitura! O sol de primavera não somente raiou para a região do Norte de Minas, mas também para todo o Brasil com um Projeto pioneiro que veio a se tornar o embrião do que conhecemos hoje como Sistema Único de Saúde, o nosso SUS.
O SUS é bastante criticado. Porém, auxilia na cura de doenças e oferece esperança a muita gente em situações complexas e caras.
Viu só!? O SUS possui DNA missionário de um adventista norte-americano que veio ajudar a salvar os brasileiros.
Que Deus abençoe a todas as Agências de missões mundiais que se dedicam a cada dia em meio aos muitos perigos e dificuldades para o serviço ao semelhante!
Obrigado Leslie Charles Scofield Jr. por seu empenho no Norte de Minas! O seu Projeto salvou e continua a salvar vidas em todo o Brasil.
Obrigado Montes Claros pela valorização de algo tão importante!
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