Um pouco de ar por favor...!
Por Célio Barcellos
Era por volta da 00:30 quando perdi o sono e me levantei para ir lavar o rosto. Com uma certa alergia que incomodava e o ar sufocante, abri a janela lateral e pude receber uma lufada de ar fresco aos sons de sapos e grilos no breu de uma cidade que dorme.
Decidido a me livrar do incômodo na garganta, tomei água e um pouco de mel com própolis. Enquanto isso, me veio à mente as duas tragédias envolvendo escolas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos da América que ocorreram na última segunda-feria (27).
A primeira tragédia aconteceu em Nashville, no estado do Tennessee (EUA), quando uma pessoa, (de acordo com algumas apurações) identificada como transgênero invadiu a Convenant School, instituição de ensino ligada à igreja presbiteriana e abriu fogo matando 7 pessoas. Será que o ocorrido nos EUA foi reação a algum tipo de bullying ou pelo fato do governador daquele estado proibir a utilização de banheiros a pessoas que biologicamente são do sexo oposto ao informado no recinto?
No Brasil, local da segunda tragédia, precisamente no estado de São Paulo, um adolescente de 13 anos de idade, de posse de uma faca, conhecida como “arma branca”, tira a vida de uma professora e fere mais pessoas.
Um pouco de ar por favor…!
Ao pensar nesses ocorridos, eu me recordei de duas coisas: a primeira tem que ver com um pensamento que captei e escrevi após ler o ensaio “Dentro da Baleia” de George Orwell e a segunda, uma descrição de liberdade lida em “A Trégua” de Primo Levi.
Pois bem, o pensamento é o seguinte:
“Estamos dentro de uma baleia social tentando respirar pelo espiráculo de narrativas. Ao invés de soluções, só acusações e reclamações à semelhança de Jonas destituídos de misericórdia e empatia. A única saída é Deus nos vomitar para que na praia do arrependimento brote amor, graça e justiça”.
Quanto a descrição de liberdade, Levi diz o seguinte:
“Caminhei horas a fio sob o ar maravilhoso da manhã, aspirando-o como um remédio até o fundo de meus pulmões maltratados. Minhas pernas não estavam muito firmes, mas eu sentia a necessidade imperiosa de retomar posse de meu corpo, de restabelecer o contato, interrompido há dois anos, com as árvores e o campo, com a terra pesada e morena, na qual sentíamos estremecer as sementes, com o oceano de ar que transbordava o pólen dos abetos, onda após onda, dos Cárpatos aos caminhos negros da cidade mineira”. (Cidade mineira aqui se refere a Katowice, território nazista para oprimir as pessoas).
Desta maneira, tanto Orwell quanto Levi relatam dramas vividos em períodos opressivos quando a guerra tirou a liberdade das pessoas e as tratou pior do que animais.
O grande dilema atual é que a guerra não cessou. Ela ocorre diariamente desde conflitos armados entre nações, bem como nas cidades e interiores comanda por desafetos e facções que aterrorizam o cotidiano.
Além dessa guerra física, tem as guerras ideológicas que atualmente tem desestabilizado o Ocidente com agendas progressistas que sufocam a liberdade de quem quer viver a vida natural que moldou o ser humano até aqui.
Há dois autores americanos que trabalham bem acerca dessa loucura que tomou conta das pessoas e que tem dividido sociedades ao redor do mundo. Douglas Murray em seu livro “The War On The West” e John McWhorter em sua obra “Woke Racism: How a New Religion Has Betrayed Black America”. As duas leituras valem muito a pena para compreender o contexto de muitas reações anárquicas após injustiças cometidas ou resistências ao modelo alternativo imposto.
Um pouco de ar por favor…!
Os dois assassinos tanto do Brasil quando dos Estados Unidos talvez tivessem razões para reclamar, porém, jamais para assassinar pessoas. O detalhe é que diariamente há muitos seres humanos tendo reputações assassinadas, mas que não ecoam como tragédia, pois a opressão dominante consegue de forma midiática abafar a culpa dos algozes, enquanto injustiças são cometidas em nome de um novo modelo de sociedade.
Um pouco de ar por favor…!
Enquanto termino este texto por volta das 02:20, o incômodo em minha garganta continua, mas bem atenuado. Giro a cadeira e olho para trás e vejo a janela aberta trazendo o frescor. No entanto, ainda continua escuro.
Para as vítimas que perderam a vida tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, bem como o assassino, o breu da morte fechou os seus olhos para sempre. Para as vítimas que sobreviveram em ambos os lugares, permanece o breu da angústia e a falta de ar da segurança e liberdade. O adolescente assassino que sobreviveu, deve estar em seu breu mental perturbado por demônios ou pela tristeza do remorço.
Assim sendo, nessa baleia social em que vivemos, necessitamos de espiráculos à semelhança de uma janela aberta que mesmo sob a escuridão dos problemas nos dá a oportunidade de aspirarmos o ar que é um frescor para a vida.
O que precisamos nos conscientizar é que devemos parar com as sandices que nos dividem atualmente. Não queiramos mudar a história ou até mesmo princípios estabelecidos por causa de sentimentos e desejos. Ao invés de forçar o outro a aceitar o que sinto ou mesmo ridiculariza-lo por ele ser diferente, procuremos viver em harmonia dentro dos limites da convivência, do contrário, morreremos todos sufocados.
Um pouco de ar por favor…!
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Texto tremendo! !! Tbm preciso de um pouco de ar por favor😥
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