Zico e Dinamite, amizade além da bola

 

Por Célio Barcellos

Normalmente escrevo sobre o cotidiano com o objetivo de relaxar a minha mente,  refletir melhor na vida e por conseguinte contribuir com a reflexão de alguém. 

Em função da forte polarização atual no Brasil em que nos últimos anos, amigos e parentes passaram a se odiar e se agredir por causa de espectros políticos, decidi escrever sobre a amizade entre Artur Antunes Coimbra (o Zico) e Carlos Roberto de Oliveira (o Dinamite), dois grandes nomes do futebol brasileiro que brilharam em lados opostos nos gramados das décadas de 1970 e 1980. 

A ideia do texto surge enquanto eu me preparava para ir deitar, mas por estar de férias decidi escrever para não perder detalhes. Ao viajar nos pensamentos, lembrei da fala do Zico sobre a doença do Dinamite por ocasião do recente Jogo das Estrelas, partida que acontece anualmente no Maracanã por incentivo do Bradesco, com objetivos sociais. 

Pois bem, para quem zomba atualmente do Vasco (e isso ocorre nas muitas resenhas, imagino que até o Zico zoe o Dinamite) e não presenciou o “Gigante da Colina” no auge do Dinamite, não vai entender a tamanha rivalidade entre as duas equipes. 

No entanto, o que chama à atenção é ver Zico, Dinamite e tantos outros craques daquela geração se darem tão bem. Eles não permitiram os lados opostos afetarem suas vidas e suas carreiras. Até porque, muitos deles moravam no mesmo Condomínio ou próximos um do outro em que as famílias eram muito chegadas uma da outra. 

As esposas e filhos de ambos se entendiam bem e certamente não permitiam que o futebol atrapalhasse o bom relacionamento de amizade. Quem dera pudéssemos levar essa questão para o campo político e separarmos as coisas como fizeram Zico e Dinamite no futebol!

Imagem: Lance - Dinamite com o netinho na praia

Espero que Zico e Dinamite tenham acesso a este singelo texto e compreendam ainda mais a dimensão da vida deles como atletas. O exemplo de ambos nos gramados e na vida pessoal conquistou o apreço das pessoas independente da rivalidade e até de nacionalidade, uma vez que representaram bem o Brasil no exterior em equipes e na Seleção Brasileira. 

Particularmente, sempre gostei do Flamengo e o Zico era o atleta de minha preferência. Apesar de que, no contexto da pratica esportiva eu era goleiro e não um meia-atacante como o famoso Galinho de Quintino.

Equipe do Praiano Júnior em Conceição da Barra-ES, foi imbatível por um período. 

Me recordo bem e com risadas (rssss) de um período em minha pré-adolescência quando numa "pelada" resolvi pegar a 10 e o Balbino Júnior ficou super zangado e se recusava a entrar em campo, pois ele era o 10. De fato ele era o camisa 10 bom de bola e certamente se inspirava no Zico, mas também no camisa 10 da equipe do Itaúnas, o Benilson Maia, craque de nossa pequena Vila. 

Voltemos à história dos personagens principais deste texto. Apesar da admiração pelo atleta Zico nem por isso deixei de admirar o grande centroavante Roberto Dinamite. Mesmo por ele defender a equipe rival era preciso admitir o seu “faro” de gol e sua performance como atleta. À semelhança do Zico, Dinamite possui um temperamento equilibrado e é super dedicado à família. Um cara do bem!

Confesso que fiquei  triste e chateado quando o ex-presidente do Vasco Eurico Miranda mandou que o Roberto Dinamite se retirasse de uma tribuna de honra no Estádio São Januário. Algo desumano e desrespeitoso para com um ex-atleta do Clube. 

Imagem: Pinterest

Deixemos de lado esse triste episódio e recordemos do jogo de despedida do Roberto Dinamite quando em março de 1993 Zico vestiu a camisa do Vasco. Como flamenguista em não me importei. Era uma festa e não havia espaço para outro sentimento que não fosse a alegria. 

O Dinamite quase foi contratado pelo Flamengo por ocasião de seu retorno do Barcelona da Espanha. Imagina Zico e Dinamite juntos no Mengão! Não teria para ninguém e os vascaínos ficariam muito zangados (rssss). 

Sei que o Zico ficou bem triste pela falta do Dinamite no Jogo das Estrelas deste ano, uma vez que ele sempre marcou presença. Infelizmente, o ex-goleador do Vasco se encontra numa luta contra uma doença que o tem debilitado. 

Imagem: Grupo Globo - visita do Zico ao amigo

E, neste exato momento, decidi dar uma pausa no texto, pois senti em meu coração que eu deveria realizar uma prece a Deus em favor do ser humano Roberto Dinamite. Sabemos que a vida pertence ao Senhor, mas não custa nada intercedermos pela cura das pessoas. 

Na minha opinião, o Dinamite tem apenas 68 anos e ainda o considero novo. Tem condições de viver um pouco mais e desfrutar da família pelo exemplo que deu como atleta, como homem e os cuidados que tinha coma a família e com a saúde. 

Este pedido de oração é sem nenhuma pretenção por achar que ele é uma pessoa famosa, até porque entro em casas de pessoas bem simples e faço o mesmo. Porém, simplesmente por entender que o Roberto como atleta fez parte de minha vida no que se refere a exemplo de ser humano. 

O jogador de futebol entra em nossas casas e passa a fazer parte da família, uma vez que praticamente conversamos e até gritamos com ele por ocasião do stress de uma partida de futebol. 

Em virtude da condição de torcedor, posso dizer que já fui mais vibrante, porém, faz um bom tempo que não deixo de fazer algo prioritário por causa de uma partida de futebol. Também compreendo que o termo ídolo é inapropriado, uma vez que a linguagem do futebol evoca terminologias da religião, especialmente do paganismo e provoca fanatismo nas pessoas. 

Imagem: O Globo

A maior prova de que esses homens são semelhantes a nós é que eles adoecem e morrem. Haja vista a recente morte de Pelé, o rei do futebol. A despeito da "glória" construída como atletas, todos carecem da graça de Deus, precisam se arrepender dos pecados e conhecer de maneira plena o Atleta Mor - Jesus Cristo para viverem a plenitude que sempre ansiaram como seres humanos (Filipenses 3:12-14). 

Essa ideia de que a pessoa que morre não morre, mas já se encontra no Céu pode soar confortadora, mas para quem é cristão e confia nas Escrituras deveria refletir um pouco mais e perceber que Deus disse que morre (Gênesis 2:7; Ezequiel 18:4; Eclesiastes 9:5,6).

Podemos tirar bons exemplos da vida de um atleta, mas não devemos depositar de maneira irracional  todas as esperanças nele. Não vale a pena brigar e perder a amizade por causa de times. Seja adepto ao esporte como algo terapêutico. 

É preciso ter a consciência de que o atleta é um ser humano que chora, que discute em casa, que fica mal humorado, que sofre dramas com os filhos referentes aos muitos problemas que afetam as várias famílias, independente de classe social; que perde entes queridos e não pode fazer nada como todo ser humano diante dessa questão.

Enfim... um atleta não é mais que um ser humano. Ele é alguém de carne e osso que escolheu o extraordinário e decidiu se privar de muitas coisas e que de maneira resiliente realizou o seu sonho de menino.

Imagem: deAmazonia 

Ao concluir este texto, fico a imaginar um mundo mais fraterno e respeitoso apesar dos pensamentos diferentes. No entanto, para que isto ocorra, depende das atitudes de cada um de nós. 

Zico e Dinamite, mesmo em meio a brigas de torcidas rivais por causa de destemperamento emocional, souberam equilibrar as coisas e desenvolver uma grade amizade. 

Façamos isso também! É o que Deus espera de cada um de nós em todos os ambientes que frequentamos ou trabalhamos. No propósito da vida, devemos fazer brilhar o amor de Deus através do nosso testemunho. 

Obrigado Zico e obrigado Dinamite! Vocês são exemplos de atletas e de seres humanos. A Bíblia diz que "há amigo mais chegado do que um irmão" (Provérbios 18:24). Vocês são esses amigos e irmãos! Que Deus abençoe a vida de vocês! Força Roberto! 

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