O Nogueira se foi
Por Célio Barcellos
Na última quarta-feira recebi a notícia do falecimento do Sr. Manoel Nogueira, gente de minha terra. Eu me lembro nitidamente do Manoel Nogueira. Um cara trabalhador bem sucedido dentro da realidade da nossa querida Vila de Itaúnas.
Na verdade, Manoel Nogueira tem a sua origem no Riacho Doce. Local que, quando do meu período de criança na Vila, chamávamos de Norte. Era um lugar meio faroeste, pois até os policiais que se achegavam na Vila tinham cisma em realizar ocorrências por aquelas bandas. Atualmente, o Riacho Doce é uma praia bastante procurada nas temporadas de verão. Ela faz divisa com o município de Mucuri-BA.
Manoel era filho de Ulisses Nogueira Lima e Clara Carvalho da Paixão, conhecida como Nenzinha. Me lembro bem da Dona Nenzinha, pois ela era a minha vizinha. Não cheguei a conhecer o Sr. Ulisses, mas o Sr. Romancino, seu segundo esposo - ver aqui poesia sobre esse casal.
Do Riacho Doce para a Vila de Itaúnas, Manoel Nogueira viveu 90 anos. Teve 22 filhos (15 sobreviveram) de três casamentos. Particularmente, conheço a Dona Luci e os seus filhos, os quais fazem parte do meu universo infantil em Itaúnas.
Véia, casada com Eolo Mourão; Tôca, casada com Enocy Zefereino; Renilton, conhecido como Côco; Lúcia, Edimara, esposa do Bernardino Maia, Dequinha, Miltinho, Roninho e Lelê, esposa do atual prefeito de Conceição da Barra. Também tem a Lêga, casada com o Naelson Vasconcelos.
Manoel Nogueira teve alguns irmãos: João, Sebastião, Ulisses, Edinho, Maria Izabel, Pedrolina, Idalina, Amália e Terezinha. Desses, me lembro bem do João Nogueira, o qual eu chamava de Tio e ainda pedia a bênção, por ele ser casado com a Osvaldina, Tia de consideração. Ah, eu me lembrei que também pedia a bênção ao Sr. Manoel Nogueira e a Dona Luci. Era o costume em respeitar aos mais velhos.
Pois é... mais um nativo que se vai... desejo que todos os familiares recebam o conforto do Céu neste momento de lágrimas e saudades.
Vou me lembrar do Manoel Nogueira como um homem trabalhador, que onde colocava a mão prosperava. A despeito do seu pouco estudo, possuía sabedoria capaz de vencer os obstáculos surgidos e até mesmo os que ele mesmo tenha colocado em seu caminho.
Para concluir, uma lembrança nítida que tenho é o Sr. Manoel Nogueira em seu bar, muitas vezes remendando redes de pesca; saindo com o remo nas costas em direção ao rio ou ao mar e até mesmo construindo canoa. Isso mesmo! Já o vi com um machado e outras ferramentas, talhando uma jaqueira e transformando-a numa canoa.
Esse ocorrido faz muito tempo. Foi no final dos anos 70 e idos dos anos 80, época em que a ponte era de madeira e do outro lado da margem, estava o Manoel, talhando como artesão, a madeira de jaqueira. Um detalhe! Foi em quem construiu a antiga ponde de madeira.
Também não posso me esquecer, do dia em que o Manoel Nogueira, juntamente com outro Manoel, o Duarte (conhecido como Deéu), que por sinal são parentes e estavam numa canoa com um anzol e uma vara longa à procura de um jovem da localidade de Pinheiros que havia se afogado.
Nitidamente vejo uma multidão na ribanceira do rio, a mãe do jovem assentada de olhos esbugalhados fixados em direção ao Nogueira. Depois de muitas horas de procura, ele teve essa ideia que foi a solução. Enquanto o Deéu remava a canoa e a imobilizava no rio, o Nogueira afundou o anzol e trouxe o corpo inerte fisgado ao calção.
No momento em que o corpo é puxado para a superfície, a mãe desmaia de tanto pesar por causa daquela horrível cena.
Esse era o Manoel Nogueira! Um homem simples, trabalhador e muito criativo para as soluções do dia-a-dia.
Que Deus abençoe a todos! Um grande abraço deste nativo, que daqui de São Paulo, não se esquece da sua gente.
Que lindo relato Celinho, vc é um cara raiz , que Deus continue te abençoando nesse dom de escrever. Abraços meu querido conterrâneo
ResponderExcluirMuito obrigado pela apreciação e carinho!
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