Brasileiros pelo mundo - Atleta em Beirute 1

 Na terça-feira (04) a região portuária de Beirute capital do Líbano entrou em pânico com a explosão de quase 3 toneladas de nitrato de amônio guardadas de forma incorreta em um armazém local. A explosão deixou 154 mortos e cerca de 5 mil feridos. Além de muita gente desabrigada. Vários bairros foram afetados e causou enormes prejuízos a um país que já foi destino para milhões de turistas e tendo Beirute  como a Paris do Oriente. 

O Tempo de Oportunidade entrou em contato com Carlos Alberto, ex-jogador de São Paulo, Fluminense e Atlético Paranaense que está numa missão de auxiliar crianças através do esporte. Carlos Alberto fez parte do grande elenco do São Paulo liderado por Telê Santana no início da década de 90. Juntamente com o ex-goleiro Vitor que atuou pelo Londrina Esporte Clube, está desenvolvendo um nobre trabalho naquele lugar (Vitor será o nosso próximo entrevistado).


Tempo de Oportunidade: Fale um pouco do Líbano?

Carlos Alberto - Falar do Líbano é falar de riqueza. Riqueza na arquitetura, nos costumes,  na culinária, enfim… é um país milenar. Byblos, Sidon, Tiro, são cidades litorâneas e citadas na Bíblia. Elias, Paulo, Pedro e Jesus passaram por aqui. Tem Damasco, que fica a 70 Km de onde estamos. Os cedros do Líbano também citados na Bíblia, são riquezas milenares. O próprio rei Salomão utilizou muita matéria prima daqui. Tem os montes Líbano e Hermon. Moro aos pés do Monte Líbano. É uma cordilheira linda para olhar e admirar. O país possui 50% de cristãos e muitos muçulmanos. Infelizmente, os conflitos e guerra civil tiveram a capacidade de destruir o país. O poder e a corrupção contribuem para piorar a situação que já não é boa. E para danificar ainda mais, veio essa explosão no Porto e a pandemia que assusta o planeta. Aqui, 70% da economia depende do comércio e do turismo. O restante da economia é dividida entre agricultura e pecuária.  

Desde a Guerra Fria o Líbano sofre com efeitos negativos. A partir dos anos 70, especificamente em abril de 1975, as tensões internas aumentam e o país se vê numa guerra civil numa colisão muçulmana (sunitas, xiitas e drusos), aliada dos palestinos, a uma aliança maronita cristã de direita. Os problemas continuam e atualmente sobre a pressão do Hesbollah. Isso é um pouco do Líbano. 


Tempo de Oportunidade: Que missão específica você está desenvolvendo no Líbano e por quanto tempo? 

Carlos Alberto - A nossa missão é através do esporte construir relacionamentos com as famílias, principalmente com as crianças. São crianças refugiadas da Síria. Existem cerca de 1,5 milhão de refugiados residentes no Líbano. Muitos sírios residem em tendas. Normalmente, cada família é composta de bastante filhos. Através do esporte queremos levar esperança de um futuro melhor. Além do esporte, estamos iniciando no projeto, cursos de idiomas, cabeleireiro e corte e costura. A duração do projeto será de 5 anos. Neste período, queremos fazer muitos amigos. Estamos trabalhando com meninos e meninas entre 11-14 anos. Já temos 200 participando e mais 100 aguardando. Esperamos contribuir com um futuro de esperança para essas pessoas. 


Tempo de Oportunidade: Quais são as barreiras que dificultam o trabalho?

Carlos Alberto - As barreiras são diversas, mas gostaria de enumerar quatro. A primeira barreira é a do idioma. O Líbano possui 3 idiomas: Árabe, inglês e francês. Assim como em outros países existem diferenças linguisticas, de sotaques e de regiões. Essa, está sendo a maior barreira por enquanto. A segunda barreira é a financeira. A Winner, instituição responsável pelos projetos (conheça mais), é depende de parcerias voluntárias e de pessoas que querem fazer a diferença na vida dessas crianças. A terceira barreira envolve cultura e costumes. É preciso muita sensibilidade com as palavras e atitudes para não causar ofensas. Porém, estamos confiantes que essas barreiras serão quebradas, pois acreditamos e temos paciência para isso. A quarta barreira envolve o clima. São praticamente 6 meses de frio. Em dezembro neva bastante. Esse ano, nevou até março. É muito frio e venta demais. Para as atividades esportivas, não temos um local apropriado. Realizamos  o nosso trabalho ao ar livre. É uma barreira a ser superada. Estamos em agosto e é um outro extremo. O calor de 40 graus é insuportável. As 10 da manhã, sentimos a pressão baixar e as crianças também são afetadas com isso. 


Tempo de Oportunidade: Como está a família e o que ela está achando disso?

Carlos Alberto - Acerca da família, a minha esposa (Mônica) tem sido uma força ao meu lado. Ela é psicóloga e tem ajudado nessa área e nas aulas de corte e costura. Ela Está gostando muito, porém, tem muita saudade das filhas. Temos uma estudante de medicina (Gabriela, 25 anos) e a Raquel (22), que estará vindo estudar na Universidade de Beirute. Como família estamos felizes, porém, com saudades. Mas a internet nos aproxima. Os nossos parentes que estão preocupados devido o histórico de guerras e hostilidades no país. 


O Tempo de Oportunidade agradece ao Carlos Alberto pela disponibilidade em participar desta entrevista. Nos conhecemos em 2019 por intermédio do amigo Fábio Oliveira. Na ocasião, passei um pernoite em sua residência, onde estreitamos laços de amizade. 

Desejo a você Carlos Alberto, à sua família e toda a sua equipe, proteção e êxito nesse belo trabalho do outro lado do mundo. 

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