Eu sou humano e não um animal -

Ilustração: Kairos Álef
Por Célio Barcellos 
A história da segregação racial tanto nas Américas quanto no resto do planeta, tem o seu embrião na escravidão de seres humanos, independente da sua cor. É fato conhecido que praticamente todos os povos escravizaram. Até mesmo os gregos, cultos, evoluídos e criadores da democracia, tinham somente na cidade de Atenas, mais de 100 mil cativos, o dobro da população (BORGER, 2003).[i]
Para se ter uma ideia, a origem do termo 'escravo' vem dos eslavos, povo escravizado e de olhos azuis que vivia próximo ao Mar Báltico. Até o século XVII, os povos cativos no mundo eram em sua maioria branca.[ii] A escravidão é uma vergonha para a humanidade! Atualmente, cerce de 40 milhões de pessoas, vive em regime de escravidão, incluindo mulheres e crianças (ilo.org, 2017).[iii]
            Infelizmente, no contexto africano da escravatura, negros escravizaram negros, e isso foi evidente entre os ricos e as várias etnias distintas uma da outra. Era um negócio tão lucrativo, que um tal Francisco Félix de Souza, saiu da Bahia no final de séc. XVIII e fundou a dinastia (Souza) no reino do Daomé, atual República do Benim. Esse mulato, natural de Salvador ficou milionário com a escravidão. Nos dias atuais, a sua fortuna seria em torno de 600 milhões de reais.[iv]
            Na África antes de Portugal, não havia o conhecimento de que os povos que ali viviam fossem do mesmo continente. Nem todos eram negros. Muçulmanos eram de pele clara e escravizaram muito.  À semelhança dos índios do continente americano que eram todos índios, mas que jamais enxergariam irmandade entre as várias etnias espalhadas entre Brasil, México ou Estados Unidos. Assim, também era no continente africano.[v]
            Seguindo a linha de raciocínio de uma escravidão geral mas que em determinado momento teve um outro desdobramento, o pensador (HARARI, 2019), menciona que os europeus brancos da América, por conveniência, optaram por importar mão de obra escrava da África e não da Europa e leste da Ásia. Isso por pelo menos três fatores:

1.     Distância: A África era mais perto e por isso mais econômica a importação dessa região do que importar do Vietnã e Senegal.
2.     Comércio existente: Já ocorria na África um consolidado e bem desenvolvido comércio de escravos para o Oriente Médio. Sendo raro o comércio escravo na Europa, optaram aonde já existia, do que iniciar a empreitada do nada.
3.     Prejuízos: Em função do alto índice de febre amarela e malária, os americanos optaram por mão de obra escrava africana, uma vez que eles haviam desenvolvido imunidade a essas doenças. Era mais vantajoso investir num escravo africano do que num cativo europeu.[vi]

            Contudo, de acordo com Harari, os importadores de escravos não ansiavam ser reconhecidos como pessoas bem-sucedidas no topo econômico, mas passaram a imagem de piedade, defensores da justiça e firmeza de propósitos. Com a ajuda de religiosos, disseminaram o mito de que os povos da África eram da descendência de Cam, filho amaldiçoado de Noé, cuja sentença seria a escravidão. Também tiveram a ajuda de biólogos afirmando que os negros eram menos inteligentes e de médicos ao dizerem que eles viviam na sujeira e eram transmissores de doenças.[vii]
            Essas informações acerca da escravidão, especialmente no contexto americano, são indispensáveis para uma melhor compreensão do racismo e da truculência animalesca contra afro-americano George Floyd (25/05/2020), quando um policial no estado de Minnesota depositou o joelho em seu pescoço levando-o à morte por asfixia. O incidente provocou uma onda de protestos que deixou o governo americano em alerta total.

            No Brasil, apesar da miscigenação ser mais aceita do que entre os americanos, os afrodescendentes não estão ilesos a xingamentos, piadas humilhantes e até mesmo agressões. Sem contar o tratamento que recebem desde que foram libertos pela Lei Áurea. Infelizmente, o Brasil tem uma dívida com os negros. Eles foram libertos e lançados à própria sorte sem nenhuma indenização e lugares para morar. 
            A melhor maneira do Brasil resolver essa questão não é criar separação por cores, uma vez que esse problema já gerou muito mal no mundo. Na verdade, se o Brasil investir em políticas públicas e privadas para todos os seus cidadãos, priorizando oportunidades para os mais pobres, promoverá igualdade entre negros, brancos e índios, pois todos formam o povo brasileiro.
            O Brasil possui vantagem sobre os americanos e europeus no combate ao racismo pelo fato de sua gente aceitar melhor a miscigenação. Se o país trilhar o caminho da prosperidade, da educação e do respeito, esse problema tem melhor condição de ser superado, uma vez que o povo brasileiro existe da mistura de povos e é lindo por causa disso.
             Assim sendo, apesar do racismo ter o seu embrião na escravidão, compreendo que o pecado é a fonte primária de tudo isso. Desde a escolha que Adão e Eva fizeram (Gênesis 3), a “imagem de Deus no homem foi deslustrada.” (WHITE, 2008).[viii] A má escolha do casal, provocou na humanidade instintos animalescos, capazes de no XXI serem chamados de primitivos, mas que na verdade são a manifestação da perversão do homem destituído da glória de Deus. 
            
            


[i] Borger, Hans. Uma história do povo judeu. São Paulo: Editora e Livraria Sêfer, 3.ed., vol. 1, 2003, p.134.
[ii] Gomes, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro, RJ: Globo Livros, 1.ed., 2019, vol. 1, p. 154.
[iii] Global Estimates of Modern Slavery. Genebra. www.ilo.org, 2017. 
[iv] Ibid., 16.
[v] Ibid., 155.
[vi] Harari, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM Editores, 49ed., 2019, p. 147,148.
[vii] Ibid., 148. 
[viii][viii] White, Ellen G. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 9.ed., 2008, p.15.

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