Da tradição para o papel e do papel para a dúvida - parte 1


 Por Célio Barcellos
A cada dia com as novas revoluções cientificas, percebe-se a extraordinária capacidade criativa e inteligência humanas. Do ponto de vista global, “os mares já foram navegados, todos os desertos atravessados, todas as florestas penetradas, as montanhas mais altas há muito já foram escaladas, já se mergulhou nas maiores profundezas dos mares.”[i] Depois de tudo isso, será que há um limite para a mente humana?

A limitação óbvia e irreversível para todo entendedor é o tempo. O que está acessível ao ser humano é o presente e em parte, o passado. Para uma real compreensão do que se foi é imprescindível o bom estado das fontes, pois quanto mais distantes estiverem no tempo, mais remotas são as chances de definir com certeza as tradições e o conhecimento.[ii]
Partindo deste princípio, a maneira segura para a compreensão da vida e das coisas que a cercam é confrontar o passado com os recursos disponíveis e apontar para o futuro com humildade e esperança. Para tanto, o objetivo desta série de textos, é uma tentativa de equilibrar a mensagem do evangelho no contexto do tempo do fim e no mundo em que a cerca. 
Para início de conversa, todo ser humano é importante para Deus e tem o olhar atencioso do Céu. Independente de tempo ou época, há um olhar celestial para ele. Desde os primórdios da humanidade, toda a riqueza de conhecimento é fruto do cuidado de Deus em preservar as fontes e do trabalho árduo de pessoas dedicadas em busca de respostas.

O Pecado deslustrou a imagem de Deus no homem

Pois bem, a viagem desta série começa na importância do letramento das pessoas. No passado havia cérebros extraordinários, mas muita gente sem a oportunidade de ler e de escrever. No período medieval por exemplo, enquanto os bárbaros invasores da Europa começavam a ler, “já fazia uns 1500 anos que os judeus tinham escrito a Bíblia”[iii].  
Claro que essa disparidade é em função do pecado. E acerca desse terrível mal, Ellen White, diz que, a imagem de Deus no homem foi obliterada e que as suas aptidões físicas e mentais foram afetadas.[iv] No entanto, em virtude da preocupação de Deus, o ser humano tinha uma memória fantástica capaz de transmitir conhecimento de geração a geração, mas que com o tempo foi se desgastando, exigindo assim, a anotação das coisas. [v].  
Em se tratando de cultura e filosofia, os povos do Crescente Fértil, muito antes que os gregos já dominavam o conhecimento. A tradição oral defendida por filósofos gregos, também não foi invenção deles, mas uma cultura patriarcal desde o Jardim do Éden. Isso quer dizer, que, muito do conhecimento bíblico atual, fora praticado muito antes, por pessoas usadas por Deus
Em seu livro Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento, Wilson Paroschi, aborda o baixo índice de letramento nos períodos helenístico, romano e medieval. No ambiente helenístico, raramente, o letramento da população excedia 10%. Até mesmo os centros escolarizados, ficavam no máximo entre 20 ou 30%. Já no Império Romano, não chegava a 10%.[vi]
Para Paroschi, havia pessoas com noções de leitura, mas que não eram letradas. Haja vista os milhões de estrangeiros escravizados por Roma em sua maioria iletrada. No entanto, muitos deles eram bastante instruídos. Entende-se como letradas não só o fato de dizer que são alfabetizadas, mas as pessoas que tenham a capacidade de compreender textos mais complexos.[vii]

Não despreze o conhecimento

Uma das grandes contribuições para o entendimento dos escritos gregos e latinos, cujas línguas nortearam a cultura ocidental é a paleografia. Essa ciência com as suas subcategorias, tem trabalhado arduamente em papiros, pergaminhos, papeis, catacumbas, gravuras, ossos, moedas e tantos outros objetos.[viii]
         Apesar dos pensadores gregos detestarem o papel em detrimento da argumentação oral, as produções em compêndios eram um caminho sem volta. Os romanos ao dominar o mundo, compreenderam e assimilaram o melhor da cultura grega com a etrusca, no entanto, o índice de letramento era baixíssimo. Algo que piorou ainda mais com o enfraquecimento e queda do império.
Sem contar que durante a Idade Média, com a ascensão dos bárbaros, a habilidade de leitura e escrita foi parar nos claustros reservada aos religiosos espalhados por toda a Europa e Oriente Médio. Infelizmente, em função de guerras e disputas religiosas, muita produção escrita foi perdida. Isto mostra que a ignorância e o fanatismo são inimigos do conhecimento.

Conflito no conhecimento para todos

- Será que em um mundo altamente tecnológico como o atual, repleto de influencers e profetas do caos, existe espaço para o letramento e a erudição? 

Assim como a publicação de livros foi um caminho sem volta, da mesma forma, os conteúdos audiovisuais chegaram para ficar. É notória a riqueza de conhecimento transmitida pelas várias plataformas de ensino. No entanto, todo esse conhecimento passa por leituras, sejam elas físicas ou digitais. Quem transmite o conhecimento deveria ser um honesto pesquisador e quem assiste, um estudioso que confere o aprendizado. 
A pergunta acima parece ser bastante oportuna no momento atual do planeta. De uma hora para outra, muitas pessoas começaram a bradar e até mesmo se autoproclamarem porta-vozes do Céu. Há tantos relatos de gente que subiu ao monte e cercada por uma epifania resolveu descer com o rosto brilhando à semelhança de Moisés. Esses supostos profetas, arrebanham seguidores que compartilham das suas pretensas previsões.
No contexto do Grande Conflito entre o bem e o mal, a guerra já foi declarada e o campo de batalha é a mente. Da mesma forma que a serpente enganou a Adão, o dragão atualmente continua a enganar pessoas letradas e iletradas. O maior problema reside no coração humano, onde o egoísmo se encarrega de fazer o trabalho de desidratação da fé e com isso minar o conhecimento, pois o orgulho humano resiste à humildade.
Desde o Éden, nota-se o cuidado de Deus para com a humanidade. A terrível história do pecado provocou no ser humano, o distanciamento da sabedoria e por conseguinte, o afastamento do Criador; causando a necessidade de escolher pessoas para apontar o caminho. O problema é que no momento atual, há muitos apontando para caminhos diferentes e neutralizando as Escrituras como bússola.
Esse neutralizar das Escrituras, tem impedido a milhões de seres humanos de encontrar a paz e a esperança. Em função das muitas vozes contraditórias, o melhor recurso para fugir da dúvida é a simplicidade do evangelho e o envolvimento na missão. Neles, tanto iletrados quanto eruditos, encontram a felicidade que o mundo e os profetas do caos não oferecem. Até porque, os profetas do caos são limitados ao presente, e sequer compreendem o passado. 
Um indivíduo pode até dominar conteúdos e ter na memória todas as informações possíveis. Porém, se o seu coração não estiver aberto para a graça; para a misericórdia e para a justiça de Deus, ele não enxergará o caminho, pois ficará perdido em meio aos seus gritos vociferados. 
Portanto, neste momento atual, quando os profetas da Nova Ordem se proliferam como gafanhotos, estude as profecias à luz do evangelho, pois dar ouvidos às suas imprecações, sem ao menos pesquisar ou consultar alguém, é jogar no lixo a riqueza do conhecimento escrito. Trocar a Bíblia, e o estudo da mesma, por horas perdidas com os pregadores do caos, é desviar o olhar de Cristo e aceitar a indolência. 
E, se Grécia, Roma e a Idade Média decretaram escuridão para a maior parte das pessoas, no mundo em que vivemos, há muita gente produtora e divulgadora de conhecimentos. Algo fantástico e nunca visto antes! Porém, um caminho bastante tênue, uma vez que a escuridão atual não é por pouca da escolaridade, mas pela indolência e a arrogância.
Sendo assim, a melhor maneira de evitar as trevas é trocar o egoísmo, a arrogância e a indolência, pela humildade; pois como bem disse Jesus, “felizes os humildes, porque deles é reino dos céus” (Mateus 5:3). Quer estar preparado para o que virá? Alinhe-se ao exemplo do Cristo e não no dos que vociferam. Continua....



[i] Stein, Alexander Vom. Criação: criacinismo bíblico. Brasília, DF: Sociedade Criacionista Brasieira, 2007, 1ed., p.12.
[ii] Ibid., 14.
[iii] Borger, Hans. Uma história do povo judeu: de Canaã à Espanha. São Paulo, SP: Editora Sêfer, 2003, 3ed., p. 301.
[iv] White, Ellen G. EducaçãoTatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008, 9ed., p. 15.
[v] Borger, Hans. Uma história do povo judeu: de Canaã à Espanha. São Paulo, SP: Editora Sêfer, 2003, 3ed., p. 301.
[vi] Paroschi, Wilson. Origem e transmissão do texto do Novo Testamento. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, p. 5.
[vii] Ibd., 5
[viii] Ibid, 1-2.

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