O garimpeiro fiel
Ilustração: Kairos Álef |
Por Célio Barcellos
Quando eu era aluno de teologia no Seminário Adventista da Bahia, em uma das aulas o Professor Demóstenes Neves relatou uma linda história de fidelidade do irmão Joaquim Jeremias (nome fictício). O irmão Joaquim ao tomar conhecimento da chegada do novo pastor do Distrito foi até a sua residência, na cidade de Teixeira de Freitas/BA. À época, o território era imenso e o professor Demóstenes um jovem pastor iniciando o ministério.
Pois bem, quando o irmão Joaquim Jeremias bateu à porta, eis que a Marluce, esposa do Demóstenes veio atendê-lo. Ao observar por uma abertura na porta notou que a pessoa que chamava o seu esposo, era estrábica.
Um tanto receosa por nunca ter visto aquele homem antes, correu em desespero a chamar o marido. O jovem pastor Demóstenes vai ao encontro daquele homem e pergunta o que o ele deseja.
Eis que o Joaquim Jeremias responde com uma pergunta:
- Aqui mora o pastor adventista?
- Demóstenes responde: sim
- Então, o irmão Joaquim, pega um embrulho amarrado ao barbante e diz o seguinte:
- Aqui estão os dízimos e ofertas para levar para a Associação.
- E em seguida foi enfático!
- É para entregar na Associação, viu pastor!
O pastor Demóstenes entendeu o que aquele irmão estava dizendo. Até porque, na mente daquele simples garimpeiro, havia a compreensão da mordomia cristã. Ele entendeu que existia na igreja uma unidade teológica e administrativa e por isso, guardou os dízimos e as ofertas de longa data para entregar na Casa do Tesouro em momento oportuno.
Daquela visita, ficou agendada a ida do pastor à localidade Serra do Centenário, onde o irmão Joaquim residia como único adventista entre um punhado de garimpeiros. Aquele simples irmão, era o remanescente de uma quantidade de adventistas que foi tentar a vida no garimpo. Ele era um homem simples, que cuidava com total dedicação da igreja construída no auge do garimpo naquela localidade.
Joaquim mantinha a igreja sempre limpa. Quando o pastor Demóstenes chegou àquela localidade de difícil acesso, ficou muito impressionado com o zelo daquele irmão. Além de deixar a igreja um espetáculo de limpa, também se encarregou de convidar todos os garimpeiros que ainda residiam por ali.
No relato do pastor Demóstenes, deu para perceber a vibração e entusiasmo com que aquelas pessoas o receberam.
Fico a imaginar quantos Joaquins espalhados pelo mundo! Homens fieis que compreenderam a essência da mordomia cristã e que não perdem tempo em problemas, mas estão interessados no avanço do evangelho e na fidelidade a Deus.
Para esses, não importa se tem pastor, ancião, diáconos, diaconisas e etc… Eles não dependem disso para a fidelidade e motivação. Não importa o que aconteça, serão sempre fieis.
Mesmo que surja uma pandemia e as igrejas sejam obrigadas a fechar as portas em quarentena, ainda assim, permanecerão fieis. Pessoas como o Joaquim não veem dificuldades em fazer do seu lar uma igreja; em estudar a Bíblia e a Lição, e também em separar o que pertence ao Senhor.
E o mais interessante: Homens e mulheres fieis à semelhança do Joaquim, procuram auxiliar os desfavorecidos da Comunidade. Eles não são egoístas, mas altruístas e solidários.
Sabe prezado irmão e distinta irmã, aquele garimpeiro, pôde até ter parecido estranho para a Marluce ou para qualquer um de nós que o encontrássemos pela primeira vez. Mas para Deus, aquele homem era um servo fiel.
Ele levou tão a sério o evangelho que foi capaz de separar as ofertas e dízimos de longos meses, sem jamais mexer em qualquer valor, pois compreendeu que aquele recurso já não o pertencia mais, pois era propriedade exclusiva do Senhor.
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