Homem de pescado e das almas


Por Célio Barcellos
Por volta das 14:00 da quinta-feira (12/12), o barrense Avido Pereira Pinto descansou. Pessoa simples e muito comprometida com as suas responsabilidades. Pai de 13 filhos, sendo 3 filhas do primeiro casamento e 10 com Laudelina da Silva Pinto, sua companheira por mais de seis décadas. Como pescador, assim como tantos outros barrenses, sustentou a sua família com muito trabalho e dedicação no mar.
Enquanto nos preparávamos para a troca de plantão na frente Hospital Roberto Silvares em São Mateus/ES recebemos a notícia do falecimento. No momento, lembrei-me de Augusto dos Anjos, conhecido como o poeta da tristeza e da morte. Em um de seus poemas intitulado “Vozes de um túmulo”, ele escreveu o seguinte: 

Morri! E a Terra - a mãe comum - o brilho
Destes meus olhos apagou!… Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!

Por que para este cemitério vim?!
Por quê?! Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra, porque não tem fim!

No ardor do sonho que o fonema exalta 
Construí de orgulho ênea pirâmide alta,
Hoje, porém, que se desmoronou

A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que apenas sou matéria e entulho
Tenho consciência de que nada sou!

Apesar de Avido, ter percorrido o trilho da vida e construído a sua história durante 92 anos, de fato o brilho de seus olhos se apagou. E isso acontecerá com cada ser humano na face da terra. Em meio às diversas crenças acerca da morte, desde o relato bíblico até as diversas mitologias sobre o assunto, o ser humano sabe que se tem algo certo na vida, chama-se morte.
Avido e o neto Kairos Álef Avido
Avido sabia disso, pois como cristão procurou durante a vida consolar muitos corações enlutados. E em todos os velórios que visitava, pregava o evangelho. Falava de Jesus para as pessoas. Avido era um homem que amava as Escrituras. Dentro da luz que recebeu, compartilhou com muita gente sobre o Jesus maravilhoso revelado nas páginas da Bíblia Sagrada. Como chegamos e ainda o encontramos consciente, com a sua autorização e rodeado dom filhos e netos, decidi ungi-lo. 
De fato, a morte é horrível! Apesar dela ser um descanso para o enfermo, as sequelas e saudades, machucam os que ficam. O que ela poderia deixar de bom, seria a mudança de atitude de um ser humano para com o outro. Mas, infelizmente, o orgulho é a maior barreira para isso. Muitos constroem pirâmides e castelos, mas ao final, "tudo é vaidade”, como bem disse Salomão.
Além das pirâmides e castelos materiais, existem as pirâmides e castelos do real orgulho como bem disse Dos Anjos. Você pode até se orgulhar dos títulos acadêmicos e das suas muitas conquistas que honrosamente fazem parte de sua vida; também poderá escolher ser egoista, mesquinho e arrogante, mas ao final, o que te espera são sete palmos de areia, um entulho para cobrir o seu odor. 
Avido Pereira Pinto, em meio aos seus altos e baixos na vida, foi um homem honrado que criou os seus filhos e sustentou a sua família ao enfrentar as dificuldades que a vida lhe proporcionou. Da sua prole de filhos, ainda teve a oportunidade de conhecer, 26 netos, 30 bisnetos e 14 tataranetos. Como um apaixonado pelo mar e observador do horizonte, sabia reconhecer  no tempo que era pequeno diante da imensidão. 
Sete dos filhos, incluindo a Salomé com a Krícis no colo. 
Assim,  como o tempo findou para muitos, também findou para Avido.  Apesar de Augusto dos Anjos dizer que o homem é um entulho e nada é, a Bíblia, há muito diz que o homem é pó e que ao pó tornará (Eclesiastes 12:7). Só que com detalhe a mais que o poeta não menciona: “… se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, asssim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele” (1Tessalonicenses 4:14).
Portanto, apesar da morte ser algo horrível e o cemitério um lugar indesejado; para os que creem em Deus, há esperança de vida além deles pois assim como o dormir e o acordar são rotineiros, o “abrir e fechar de olhos” são uma certeza para os que descansam no Senhor. A sepultura do crente não é um entulho apenas,  mas um local para a manifestação da glória de Deus.
        Maranatha! 





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