Eu não sou mais eu


Por Célio Barcellos
Estava eu e centenas de pessoas assentados na imensa igreja do Centro Universitário Adventista de São Paulo, no município de Engenheiro Coelho por ocasião do II Simpósio de Mordomia, denominado Frutos da Fidelidade. Naquele recinto, o jovem Josanan Júnior, discorreu acerca da TRANSFORMAÇÃO. Citando Gênesis 1:26, aquele pregador abordou sobre o egoísmo de Adão ao jogar tudo fora em função do pecado.
Eu estava tão vidrado no assunto, que, ao ele mencionar as frases: “Se o corpo fosse meu”; “Se o tempo fosse meu”; “Se o talento fosse meu” e “Se o tesouro fosse meu”… viajei tanto, que deu tempo até de lembrar da cronista brasileira, Clarisse Lispector quando do seu texto “Se eu fosse eu”. 
A fantástica Clarice no final dos anos 60, escreveu para o Jornal do Brasil a crônica “Se eu fosse eu”. Imagino que ela estava falando da luta consigo mesma para manter a compostura. Ou seja: o dilema de todo ser humano em frear as suas reais intenções que se manifestadas, ninguém suportaria. Filha de judeus russos, Clarisse nasceu na Ucrânia, mas veio ainda bebê para o Brasil. Certamente, como judia, ela escutou muito acerca de (YHWH), o Deus adorado pelos judeus.
Fiquei a imaginar se Clarisse e tantos outros gênios da literatura estivessem passivamente naquele Simpósio. Se eles tivessem ouvido o Nilton Aguiar, falar que "Deus deve ser o ouro do coração humano” e que a “mordomia move a missão”. Eu creio que eles escreveriam coisas mais fantásticas ainda. Eu imagino, se eles tivessem a real percepção do que havia no coração de Jó e dos demais fiéis, esses monstros da literatura teriam escrito além do cotidiano e sem os fortes dilemas existenciais. É provável que grande parte dos seus direitos autorais seriam destinados para a missão do evangelho.
Quando o Arthur Stele disse que “Deus é dono de tudo”, viajei pensando não somente na Clarisse, mas em mim mesmo. Por um momento, lembrei-me que por muitas vezes, achei que o meu "corpo" fosse meu; que o “tempo" fosse meu; que o “talento" fosse meu e até que o “tesouro" fosse meu. Infelizmente, por achar isso, acabei fazendo coisas como “se eu fosse eu”. Você já parou para pensar "se você fosse você" como disse a Clarisse?  Ninguém nos suportaria! 
Ainda bem que o Espírito Santo é capaz de pegar o “eu" do “se eu fosse eu” e transformá-lo em uma criatura que não mais vive para si, mas que deixa Cristo viver por ela (Gl 2:20). Então, pensei: há chance para mim. Ah, e para você também! No entanto, é preciso ter a consciência de que nada é fácil, e o “se eu fosse eu” estará sempre querendo dominar a mente e se rebelar contra Cristo.
Quando o “se o meu corpo fosse meu” me importunar para a transgressão, que O Cristo que vive em mim, me livre; quando o “se o tempo fosse meu”, me envolver nas teias do entretenimento e até da transgressão do sábado, que O Cristo que vive em mim, me livre; quando o “se o talento fosse meu”, me conduzir ao estrelismo e até mesmo a negar o dom de Deus, que O Cristo que vive em mim, me livre; e quando o “se eu fosse eu”, me forçar a roubar os dízimos e negligenciar nas ofertas, que O Cristo que vive em mim, me liberte. 
Após esse Simpósio, cheguei à conclusão que continuarei a ler Clarisse e demais escritores. Porém, indiscutivelmente, quero ler mais a Bíblia e quem escreve acerca dela. Mas não quero ser somente um leitor anestesiado nos dilemas do “se eu fosse eu”. Quero que a as palavras da Bíblia façam morada em minha vida para que eu seja fiel a Deus, dando frutos da fidelidade à semelhança de Jó e dos gigantes da fé. 
Gosto muito de Clarisse, mas amo muito mais a Cristo. Compreendi que sem Ele, o “eu" continua me atormentando para o “se eu fosse eu”. E como estou nesta terra e já sei de onde vim e para onde vou, não permitirei o meu “eu” ser o que ele quer, mas deixar Cristo conduzir os passos. Ah, sabe por que os homens da Bíblia foram felizes e fieis? Porque eles não foram eles, mas porque permitiram ser, aquilo que Deus queria. 

 

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