O navio


Por Célio Barcellos
Um dia desses, bem de manhã aqui em Pirassununga/SP, fui até a cozinha e ao olhar da janela percebi uma neblina que mais parecia a baía de Vitória em direção ao mar. O horizonte acinzentado, cobrindo casas e edifícios, desenhava a imagem de navio. Por um instante, até imaginei ser a linda cidade de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo, o meu estado natal. 
Quanto ao navio, apesar daquela baía receber muitos deles, um em especial, chamava muito a atenção das crianças - o Grimaldi. De origem italiano, esse navio recebia por parte de minha família um olhar especial. Íamos até a varanda do apartamento, ou da janela e olhávamos aquele imenso navio repleto de conteiners chegando no porto ou seguindo viagem mar adentro. Salomé e as crianças muitas vezes vibravam para chamar minha atenção a olhar. 
Morávamos no Ilha de Madagascar, um belo condomínio na Coronel Schwab Filho, próximo ao Deboni's, conhecido restaurante em Bento Ferreira. Depois nos mudamos para o Sequóia, na Francisco Rubim. Ambos de uma vista privilegiada, onde captávamos bela paisagem e a entrada de navios, especialmente a do Grinaldi. Eram moradias maravilhosas e vizinhos extraordinários! Foi um período em que nossos filhos mais brincaram. Kairos com o seu amigo João e a Krícis com as amigas Késia e Naiely. 
Para manter a saúde e a disposição diária, me exercitava constantemente. Desde Bento Ferreira até o final da praia de Camburi, caminhava, corria e às vezes pedalava naquele imenso e espaçoso calçadão. Todas as segundas, eu tinha a companhia do amigo Enio Rocha, ansioso para diminuir a barriga. Também aproveitava muito a Curva da Jurema, onde eu praticava natação. Essa última modalidade, não a fazia somente por ser completa, mas para lembrar dos meus tempos de menino, no rio Itaúnas. 
Nas atividades esportivas, passeio com a família ou durante os afazeres, tanto a baía, o mar, bem como o santuário da Penha no alto do monte eram impossíveis de não serem notados. E em meio a essa bela paisagem, de vez em quando, aparecia o Grimaldi. E toda vez que eu o via, ao chegar em casa comentava com a família. As crianças ficavam de tocaia para ver o navio!
Mas infelizmente, em março desse ano, o Grimaldi sofreu um incêndio na costa francesa. Ele estava repleto de automóveis, cerca de 2 mil veículos. Mas graças a Deus, os 27 tripulantes a bordo saíram todos vivos. A vida é assim: Hora a paisagem está de um jeito, hora de outro. Pode ser que o Grimaldi, nunca volte a navegar; porém,  ele  ficará marcado para sempre em nossas memórias.

                                                                                       Pirassunga/SP, 03 de julho de 2019

Comentários

  1. encantado!uma visão singular de coisas que pra nós são corriqueiras,parabéns pastor lidos textos.

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