A democracia brasileira é um tanto confusa
Por Célio Barcellos
Uma das grandes contribuições do legado grego para a humanidade é o conceito de democracia. Em sua etimologia, democracia significa: demos (povo) e cracia (governo). Na cidade de Atenas por exemplo, a cada ano a Assembléia se reunia na Pnyx e escolhia os representantes do povo que de forma voluntária davam a sua contribuição em prol da nação. Os escolhidos serviam na legislatura por um ano.
No Brasil, o conceito de democracia é um tanto confuso. Por mais de 300 anos, o país conviveu com o regime colonial, sob o comando da coroa portuguesa. A partir de 1822, com o grito do Ipiranga, o Brasil tornou-se independente, porém, sob o comando da dinastia Orleans e Bragança, que na verdade, também fazia parte da corte portuguesa. O grito foi uma espécie de golpe combinado.
Com a proclamação da República (1899), o país ganhou ares de sistema republicano, mas nada que se parecesse com democracia. Até porque, de acordo com Laurentino Gomes em seu livro 1889, os republicanos, liderados pelo advogado Antônio Silva Jardim estavam dispostos a comemorarem o centenário da Revolução Francesa instalando o novo regime. Estavam tão determinados que só havia duas opções para a família imperial: exílio na Europa ou morte em praça pública.
Na verdade, a República brasileira surgiu de um golpe orquestrado. O marechal Deodoro da Fonseca não queria se levantar contra a monarquia, mas por se contrariar com o imperador Pedro II, acatou o levante de um grupo que queria o poder e aderiu ao golpe que implantou a República. Como não havia redes sociais à época, lideres influentes minavam a monarquia sem que o povo no geral soubesse do que estava acontecendo.
De acordo com historiadores, a democracia brasileira teve início no primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1934). Em meio aos conflitos do Estado Novo, período denominado em função da extinção da Velha República, o Brasil conseguiu avançar em muitas frentes que trouxeram grandes benefícios para a população.
A partir de 1964, especificamente até o ano de 1985, o Brasil teve que conviver com uma nova forma de governar, denominada como ditadura militar. Do primeiro presidente, Castelo Branco (1964-1967) até o último, João Figueiredo (1979-1985), o Brasil passou por muitas turbulências em um período bastante conturbado que ainda hoje possui marcas profundas.
Com o desgaste do regime militar, surgiu um forte clamor por eleições diretas e iniciou-se no período, o chamado processo de redemocratização com a eleição de Tancredo Neves, o primeiro civil a conquistar o direito de presidir o país após 21 anos dos generais. Infelizmente, Tancredo não chegou a assumir em função de seu falecimento, dando lugar ao vice, José Sarney.
No que se refere ao poder, tanto militares quanto civis erraram feio nesse processo de governar o Brasil. Se militares são acusados de assassinatos e corrupção, o período dos civis, mostrou semelhantes equívocos. É possível que exista muitos crimes a mando de poderosos da política que nem se quer foram aberto inquéritos. Sem contar nas milhares de mortes provocadas em função do dinheiro desviado para a corrupção.
Nesse período da jovem democracia brasileira, dois presidentes da República perderam os seus mandatos pelo processo de impeachment (impedimento). Parece que os representantes do povo no Brasil não são tão altruístas quanto os representantes do povo na Grécia antiga, pois lá, havia maior engajamento para o bem comum das pessoas, enquanto que no Brasil, há mais preocupação com privilégios do que com o servir a população.
Um tanto cansado de ser enganado, o povo em tempos recentes, tem se mobilizado nas ruas e também nas redes sociais exigindo maior comprometimento do parlamento. Somente no mês de maio do corrente ano, duas grandes manifestações saíram ás ruas. Uma contrária ao governo (inclusive com gritos de impeachment para um presidente eleito há poucos meses) e outra favorável a agenda governista.
Parece que no Brasil há muita dificuldade em aceitar mudanças. Os mesmos políticos que lutaram pelo direito de governar o país pelo voto popular, são os mesmos que interpelam e achincalham a democracia, pois parece que democracia só vale se determinado grupo estiver governando. Líderes que criticam os militares, mas que não sabem somar para o bem da população, infelizmente, agem como se fossem ditadores, sejam eles conservadores ou liberais.
O Brasil quer dar um salto e parece que há muita gente poderosa impedindo. Por quase duas décadas, os brasileiros entenderam que o pensamento de esquerda foi bom. E de fato houve muita contribuição. No entanto, a dosagem de benevolência foi desproporcional e isso provocou um estrago na economia a ponto de criar uma dívida pública de quase 5 trilhões e provocar o desemprego para 15 milhões de brasileiros.
Parece, que tanto os políticos bem como muitos brasileiros precisam aceitar que o presidente atual foi eleito de forma legítima. Gostando ou não dele, o camarada é o presidente. Como bem pontuou o jornalista Enio Rocha por ocasião das manifestações do último domingo (25/05) em Vitória/ES: “Essas manifestações pelo país, são na verdade gritos populares de liberdade de milhões de desempregados e de insatisfeitos com uma política que deu errado e que alguns resistem em mudar”.
Assim sendo, se tão somente os políticos cumprirem a sua parte, respeitando o clamor das pessoas naquilo que elas já compreenderam ser o melhor para o país, certamente o Brasil começará a compreender o que é democracia, do contrário, será uma ditadura disfarçada de legitimidade para praticar crimes em prol de grupos influentes que não aceitam perder, mas que aceitam o atraso e a miséria das pessoas em detrimento dos seus conchavos.
Neste caso, ainda estamos atrasados em relação aos gregos, pois os mesmos serviam a sua gente, sem ganhar um tostão e se sacrificavam pelo bem comum. Diferente dos poderes brasileiros que ao invés de servirem e até mesmo sangrarem na própria carne, preferem fazer sangrar a sua gente.
E ai parlamento brasileiro!
O que está esperando para votar as reformas necessárias?
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