Nostalgia de um belo tempo
Fonte: conceicao-da-barra.blogspot.com (Antiga Vila de Itaúnas) |
Por
Célio Barcellos
Lembrar do princípio é sempre bom para prosseguir. Mas prosseguir
com humildade, simplicidade, respeito e muita saudade do bem outrora
vivido. Lembro-me com saudade da minha pequena Itaúnas, uma bucólica
Vila, no litoral norte capixaba, onde numa casinha de pau-a-pique
morávamos vovó, vovô e eu. Pela manhã ao acordar, os pés tocavam
o assoalho de madeira, vindo da antiga Vila, da casa da tia Ortiz e
do Luiz italiano.
Viver em Itaúnas, era muito mágico. A simplicidade de minha casa
coincida com a simplicidade da Vila. Mesmo os mais abastados, de
sobrenomes fortes, como Vasconcelos, Maia, Cabral... se relacionavam
com todos, como se fossem parentes. E muitos de fato o eram. Havia
até mesmo, no sertão de Itaúnas, um local chamado “Comercinho
dos Parentes”. Lá pelas bandas da “Estiva” e do “Córrego
Grande”...
Cresci ouvindo histórias, sobre Duca Tora, Manoel Velho, Antônio
Colodiano, os irmãos Corsani – italianos que se fixaram no
“Córrego Grande” e muitos outros. Foi maravilhoso ter em meus
avós, Vlademira e João Pequeno, os meus primeiros educadores.
Criaram-me com dedicação, pois, a minha mamãe, dona Adocélia, se
fazia sempre presente, mas sem a devida condição.
Minha mãe Adocélia está com a sacola na mão, a outra é minha tia Eva (já falecida) e a criança é a prima Ideleide. |
Que saudades! Saudades do fogão a lenha, da comida simples, porém
preparada com muito carinho. Dos peixes e milhos assados, das batatas
doces e aipins, das talhas de barro – despositárias de águas
sempre refrescantes. Era tudo muito rústico, porém, indispensável.
O meu quintal, nem se fala! Que saudades! A terra – uma mistura
branca com grafite – tinha pé de amora e coqueiros, era onde me
lambuzava e recebia os amigos, inclusive as filhas do Barão – Sim!
Do “Tião do Barão”. Esse era o apelido do Sebastião, filho do
seu Kidinho e dona Zizinha. Homem empreendedor, visionário, que já
no início dos anos 80, possuia, restaurante, pousada, padaria e
começara a construir um supermercado. Pena que o Tião partiu para a
capital, e nunca mais o vimos.
Debaixo dessas Dunas está a Antiga Vila. |
Para a escola eu seguia sempre com o incentivo da vovó, que apesar
de iletrada, deu o seu melhor por minha educação. Lá, na Benônio
Falcão de Gouveia, escola que leva o nome do combatente que aos três
meses de casado, foi convocado para a Segunda Guerra, e na Itália,
ferido de morte partiu, deixando viúva, a jovem Florbina Thimboiba
Bonelá, que nunca mais se casou e que somente honrou o valente
itaunense que da Vila serviu lá.
Muitas lembranças... muitas saudades... de um lugar encantador.
Fonte:www.anave.tur.br (atual Vila de Itaúnas) |
Lembro-me com carinho das professoras Dulce e Terezão. A primeira me
ensinou a ler com precisão, enquanto a outra, cuidou da disciplina.
Claro, com uma régua assustadora, mas com recomendações vindas de
casa, devido às malcriações.
Da casinha de pau-a-pique, após o almoço em direção ao rio eu
partia, carregando louças na bacia. Relutante eu ia não por
vergonha, mas por preguiça mesmo. Tinha sempre a companhia da
Gildete, conhecida como Cida, filha do falecido Gilbertinho, exímio
carpinteiro da Vila. Na beira do rio era muito divertido. Enquanto
ariávamos as panelas recheadas de carvão, Cida e eu, cantávamos e
ríamos à vontade cheios de alegria e inocência de meninos.
Rio Itaúnas |
Comentários
Postar um comentário