Somos Todos Severinos

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Por Célio Barcellos

Em seu poema, "Morte e Vida Severina", João Cabral de Melo Neto (1920-1999), retrada a difícil luta do sertanejo, que anseia pela vida em meio a seca e a fome. Essa dura realidade, vivida há muito tempo por nossos queridos compatriotas das regiões da caatinga, se faz presente no cotidiano de pessoas que à distância, sofriam com os nordestinos e dos indiferentes a tudo aquilo.

Exceto o norte de Minas, no chamado "Vale do Jequitinhonha", imagino que as demais localidades do Sudeste e Sul do Brasil, não sabiam o que era conviver com a seca, a fome e a miséria extremas. Os sofrimentos conhecidos, eram as mazelas  causadas pelas disparidades sociais, também experimentados pelos nordestinos.

Pois é... a seca, a fome e a miséria chegaram onde antes nem se imaginava! E com elas, também vieram as catástrofes e acidentes humanos causados por negligências de empreendedores. Catástrofe como a ocorrida em Mariana, quando uma barragem se rompeu e lançou lama venenosa repleta de rejeitos quimicos, que à semelhança de uma praga, desceu e atingiu todo um rio, deixando rastros de morte e numa corrida sem fim, partiu para o oceano, onde já percorreu 40 km ao norte.

E assim, como disse Cabral de Melo Neto:

"E se somos Severinos iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual, mesma morte severina:
que a morte que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra."

Portanto, "somos muitos Severinos iguais a tudo na vida"!
Uns da "cabeça grande" e outros da pequena;
uns negros e outros brancos;
uns ricos e outros pobres;
uns bonitos e outros feios;
uns "Severinos de Maria" de muitos finados "Zacarias";
outros Severinos de Joana, de Penha, de Benedita
e tantas outras que choram em sofrimento e morte,
com a violência e o terror,
não somente do sertão, mas de todo o lugar.
Pois é... somos todos Severinos!
Na seca ou na cheia,
num acidente ou na violência,
no terrorismo ou na paz;
quantos Severinos se vão!?...
de "velhice antes dos trinta",
de "emboscada antes dos vinte",
Todos somos Severinos...
pois diante da morte e dos problemas,
a vida, é mesmo severina.

 

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