Peregrinos em terra estranha
Por Célio Barcellos
A foto do pequeno Aylan Kurdi, estirado de bruços, em uma praia da Turquia, circulou o mundo nessa quinta feria (3) e causou comoção em milhões de pessoas. Em função das guerras, muitos cidadãos de “zonas de conflito”, arriscam as suas vidas em embarcações precárias na busca por refúgios. Foi o caso do sírio Abdullah Kurdi, que além de perder Aylan, também viu ceifada a vida da sua esposa e de mais um filho.
Quando Deus criou a terra, plantou um jardim e pôs nele o homem (Gn2:8). Ele a fez, para que se expandisse sem barreiras geográficas, linguísticas e raciais. Ou seja: contrário a toda segregação atual. Fomos criados para sermos cidadãos de um mundo perfeito. O problema é que o pecado distanciou as pessoas, separando-as.
Se não fosse a dureza do coração humano, os problemas seriam minimizados. O maior empecilho é justamente fazer com o que o ser humano reconheça a maldade e as suas consequências. As pessoas discutem um monte de coisas, mas nem se quer, lembram de discutir seus destinos eternos.
Tente convencer um jihadista de que decepar cabeças e explodir bombas é mal? Pelo contrário, você poderá sair convencido, (como tem feito com muitos jovens franceses, belgas, britânicos e etc...) de que o que ele faz é correto e tem a aprovação de Alá. Ao perguntar para um chefe de estado que bombardeia e oprime pessoas, ele certamente usará argumentos favoráveis à guerra em nome da soberania do estado e do poder.
Se alguém, defensor do uso de drogas, ser confrontado, possivelmente ele argumentará que a vida é dele e por isso ninguém deve se intrometer nela, pois ele é um ser livre e faz o que bem entender. Ao partir para a sexualidade, o problema se agrava ainda mais, pois, em nome do prazer parece que tudo é permitido, incluindo sexo sem compromisso, gerador de filhos indesejados os quais se multiplicam aos milhares, causando enormes problemas socias e uma quantidade excessiva de abortos e doenças sexualmente transmissíveis.
Em meio a todas as barbáries, tragédias, tristezas e irreverência humanas, ainda sim, somos cidadãos do mundo. Não podemos fechar os olhos e as portas para as pessoas. O dever de cada um de nós, é encontrar caminhos para um mundo mais igual e próspero para todos. Não podemos criar barreiras intransponíveis que impedem pessoas de um lugar ao sol.
Em função do ocorrido na Turquia, Bryndis Biorgvinsdottir, escritora Islandesa de 33 anos, decidiu usar a palavra como arma em prol dos refugiados. Ela disse o seguinte numa carta ao ministro do Bem Estar Social da Islândia: “Os refugiados são nossos futuros maridos e mulheres, melhores amigos ou almas gêmeas. Eles são os bateristas da banda dos nossos filhos, nosso futuro colega, a Miss Islândia 2022, o carpinteiro que finalmente vai terminar o banheiro, o atendente da cafeteria, o bombeiro, o gênio da informática ou o apresentador de televisão.”
Talvez, algumas palavras da Bryndis não se encaixe em sua visão de mundo, mas como um cidadão mundial, deve se propor a contribuir com o bem-estar do mesmo. Se você não gosta de bateria, isso não te dá o direito de maltratar o baterista; se não concorda com a Miss, não te dá o direito de difamá-la; se não bebe café, trate bem o cafeteiro e solicite água ou suco, mas não deixe de viver e lutar para que os outros também vivam.
De acordo com o portal g1.globo.com, Abdullah Kurdi recebeu oferta de moradia no Canadá. Mas, após o acontecido, o que mais anseia nesse momento é retornar para a sua terra, sepultar os seus queridos e passar o resto dos seus dias na Síria.
Esse sentimento de Abdullah é o mesmo de todo patriota. Apesar das dificuldades, o nosso habitat, sempre será o melhor lugar. A própria Bíblia relata algo parecido quando o patriarca Jacó, tendo que sair da sua terra para não morrer de fome, migrou-se junto com a família para o Egito. No entanto, o retorno para o seu lugar era algo permanente em seu ser (Gn.47:29). Ou seja, por mais gratidão que tenhamos ao lugar onde fomos recebidos e até radicados, no fundo, queremos retornar à nossa origem.
A luta por sobrevivência sempre existiu e sempre existirá. Enquanto houver mundo, haverá pessoas lutando pela vida e ajudando outros a viver. Sempre existirão pessoas como Tereza de Calcutá, Anne Frank, Oscar Schindler e muitos outros que dedicaram suas vidas em prol do semelhante. Como cristãos, temos parte fundamental nessa história. É nosso dever ajudar e também alertar as pessoas.
Assim, por mais que amemos o nosso lugar, nos sentimos intrusos nessa terra. Diariamente guerreamos, por sobrevivência. É constante, o número de náufragos nos revoltos mares da vida. São crianças, jovens e idosos, que se desprendem de seus tutores e morrem em águas revoltas.
Se a carta viva de Deus – a Sua Palavra, chegar de forma poderosa até às pessoas e os seus mensageiros, dentro da ética cristã, usarem a coerência, certamente, não só sensibilizará governos, como também servirá de embarcação segura aos peregrinos ilhados e desejosos do Continente Celestial.
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