Panelaço ou proclamaço?

 

Célio Barcellos

O 15 março do corrente ano, marcou os 30 anos da posse de José Sarney à presidência da República, no processo de redemocratização do país. Mais de 1 milhão de pessoas saiu às ruas de forma civilizada e pacífica para protestar contra o governo e as infindáveis corrupções no Brasil. Essa mobilização soou um alerta tanto no governo, quanto no congresso, pois em meio a multidão, não estavam bandeiras de partidos e ideologias políticas, mas o clamor da multidão.
 
Nos dias do Novo Testamento, havia o “clamor de Israel” para a libertação do jugo romano. Era tão pesada a corrupção, que muitos, se juntavam aos zelotes (grupo nacionalista de resistência armado), e enfrentavam o poder do estado, na esperança da chegada do Messias para os tão esperados dias de paz e segurança.
 
O motivo para não aderirmos a certas manifestações é que assim como os governos não se entendem, as pessoas também não. Cada qual olha para o seu umbigo. Muitos dos clamores nos diversos movimentos são comportamentos contrários à palavra. Baseado em Romanos 13, o Comentário de William Baclay, cita algumas razões pelas quais os cristãos do Sec. I reconheciam a autoridade do Estado e por que não dizer também que eram desaconselhados por Paulo a manifestações contra o mesmo.
 
1. O Cristão é Parte da Sociedade.
 
Paulo entendia que ninguém pode desligar-se inteiramente da sociedade da qual faz parte. Ninguém pode conscientemente marginar-se da nação. Como parte dela, o indivíduo desfruta de uma série de benefícios que não teria isoladamente. Assim como é parte do corpo da Igreja, é parte do corpo da nação.
 
2. Oferece Justiça e Segurança
 
O Estado existe para oferecer justiça e segurança a seus cidadãos. Um Estado é essencialmente um corpo de homens que se uniu para relacionamento e observação das leis; sem o Estado, a vida seria regida pela lei da selva. Todo homem deve segurança ao Estado e, portanto, deve responsabilidade para com o mesmo.
 
3. Oferece Uma Variedade de Serviços
 
Ao Estado o povo deve uma gama de serviços; Não seria possível cada um ter sua própria água, sua própria luz, serviços sanitários, serviços de transportes. Um indivíduo isolado não poderia desfrutar de um sistema de serviços municipais ou de serviços sociais de segurança.
 
4. Como instrumento divino
 
Esse era o principal conceito de Paulo sobre o Estado. Ele via o império romano como instrumento ordenado por Deus para salvar o mundo do caos. (A Pax romana dava ao Apóstolo, a possibilidade de realizar o seu trabalho). Paulo entendia que aqueles que administravam o Estado estavam desempenhando um grande papel: estavam fazendo a obra de Deus, e era um dever cristão ajudar e não obstruir.
 
Paulo soube muito bem aproveitar da Pax sem se rebelar contra a mesma. Exemplo disso foi por ocasião de sua 1ª viagem missionária quando evitou passar pelo reino de Antioco para não sofrer represarias, pois este não estava sob domínio de Roma.
 
Nos dias de Jesus, fariseus, saduceus e zelotes, buscavam hegemonia nos seus conceitos. O conservadorismo dos fariseus e o liberalismo dos saduceus, se deparavam com o extremismo dos zelotes. Jesus não foi partidário de nenhum deles, mas amou cada ser humano que fazia parte desses movimentos.
 
Os propósitos de Cristo eram bem definidos, por isso nunca precisou fazer campanha contra o governo e nem se juntar aos revolucionários armados para tomar o poder. Também, jamais incentivou os discípulos, ou qualquer pessoa a fazer o mesmo; Por mais que associem Jesus a um líder político e revolucionário, Ele foi muito mais do que isso. Conseguiu influenciar pessoas sem chantageá-las; Nunca subornou ninguém, não precisou mentir para conseguir seguidores, porém, deixou bem claro que ao segui-LO, o indivíduo passaria por aflições.
 
Apesar de ter morrido como qualquer outro líder, demonstrou através da Sua ressurreição, que o Seu reino, não é transitório e que Ele não é qualquer um. Enquanto os poderosos vivem “época”, os seus sábios seguidores atravessarão séculos com Ele (1Co 2:6,7), pois O mesmo, detém o controle da vida.
 
Portanto, os seguidores de Cristo ao invés de aderirem a manifestações e panelaços, devem se envolver na missão do proclamaço. Devem se misturar em meio à multidão, à semelhança do apóstolo Paulo, aproveitando o poder e proteção do Estado, para livremente, proclamar à multidão perdida em seus conceitos e pecados, advertindo-a do reino de paz que não terá fim.





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