30 anos sem Ayrton Senna

 

Por Célio Barcellos

Naquela manhã de domingo de 1994 me recordo que eu não estava deitado no sofá assistindo a Fórmula 1, pois era o domingo para a visita aos meus avós João Pequeno e Valdimira (in memoriam) em Itaúnas. 

Eu havia saído às 7 da manhã de Conceição da Barra para Itaúnas no ônibus da Viação Mar Aberto e às 8 eu já estava na Vila. 

Fiz o desjejum com os meus avós e eles estavam muito felizes com a minha presença. 

Na verdade, toda vez em que ia visitá-los era uma felicidade para ambos os lados, pois quatro anos antes, eu havia tomado a decisão de ir morar com a minha mãe (Dona Adocélia), e isso foi muito doloroso para nós. 

Como de costume, após matar a saudade com os avós, eu saia pelas ruas da Vila de Itaúnas a fim de rever amigos e pessoas que me viram crescer.

No entanto, percebi que as ruas estavam um tanto desertas e um certo silêncio. 

Imagem: Sportbuzz

Ao caminhar pela rua principal em direção à praia, próximo ao Zé Soares e Dona Clara, a Naninha Vasconcelos, filha da Marta e do Astor, me perguntou: 

- “Celinho, você não sabe o que aconteceu agora?” 

- Eu respondi, não. E em seguida pergunto: O que aconteceu? 

- A Naninha com os olhos marejados e um tanto assustada, disse: “Senna morreu”. 

- Como assim, o Senna morreu? 

Naquele momento, entrei na casa de alguém para ver o ocorrido, pois na casa de meus avós não havia TV. 

Ao me deparar com as falas do Galvão Bueno e das reportagens a seguir, parece que eu havia perdido um parente próximo. Havia uma profunda tristeza em meu coração! 

Voltei para a casa dos meus avós, almocei com eles e por volta das 16:00 retornei para Conceição da Barra. 

Ao chegar em casa e tomar ainda mais informações do ocorrido, as lágrimas rolaram em meu triste olhar.

Após trinta anos daquele fatídico 1º de maio, a memória do Ayrton Senna continua forte na mente dos brasileiros. 

O cara deu muitas alegrias nas manhãs de domingo. Ele pilotava o seu carro com paixão e carregava o verde e amarelo pelos quatro cantos do planeta. 

O Senna, além de excelente piloto, era um ser humano incrível e repleto de humildade, sinceridade e alguém com muita confiança em Deus. 

Imagem: Pinterest, Senna lendo a Bíblia

Do ponto de vista da memória afetiva, a falta do Senna continua a deixar saudades. Talvez, se fosse nos dias atuais, a sua morte possivelmente seria comemorada por uma ala da sociedade que se dividiu por causa da polarização política.

É possível que atualmente, se o Senna estivesse em atividade, fosse proibido até de levantar a Bandeira Brasileira em suas comemorações. Talvez, até mesmo a Xuxa não namoraria com ele por confundir sua paixão pelo esporte com paixão ideológica. 

Será que se o Senna falasse atualmente o que falou no passado, se orasse antes de uma corrida, se fosse contra algumas pautas ele teria a mídia que teve ou seria cancelado?

Imagem: f1senna.weebly.com - Senna ora antes de uma corrida

Sabe prezado amigo e distinta amiga, 30 anos atrás vivíamos com mais tolerância um com o outro. Podíamos falar da religião um do outro, do candidato político do outro lado, do Senna ou do Piquet, mas no almoço ou no churrasco estávamos lá, em família ou entre amigos superando as desavenças. 

E hoje? Hoje, você não pode contradizer alguém que o risco de uma reação em cadeia é mais rápida do que um Formula 1 em alta velocidade. 

Mas, voltando à memória do Ayrton, que bom que ele viveu numa época em que não se falava muito em "politicamente correto", cancelamento, discurso de ódio e tantos outros absurdos ideológicos que tomaram conta de nós. 

Uma pena ele ter nos deixado tão jovem, aos 34 anos de idade. 

Que Deus conforte a família do Senna e a de tantos outros anônimos que morreram tão jovens, mas que marcaram positivamente a vida de tantas pessoas espalhadas por ai. 

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