Sereno

 



Por Célio Barcellos 

Ontem à noite (27) recebi do amigo Adenilton Silva um compartilhamento sobre a minha querida Itaúnas. Era um twitter do @capixabapedia em que relatava um pouco da história daquela pacata Vila no município de Conceição da Barra-ES.

Normalmente, quando paro para escrever sobre a minha terra, confesso que viajo em minhas nostalgias. Este texto que escrevo, é fruto desse twitter que recebi, pois me deixou muito feliz com lembranças do meu lugar.

Para auxiliar na imaginação, eis que o dia amanheceu nublado e à medida que eu conduzia o veículo para levar a minha filha à escola, solicitei-a que registrasse fotos da paisagem. 



É, que, naquele momento de Céu embaçado, nublado, sereno como chamávamos por lá, me veio à memória a minha pequena Vila, “da minha infância querida que os anos não trazem mais…” como bem menciona Casimiro de Abreu em seu poema, “Meus Oito Anos”. 

O termo “sereno” para nós (nativos da Vila), se referia aos dias em que não enxergávamos o horizonte como nos dias de sol. Particularmente, me lembro de muitos dias serenados. É que, num determinado período dos meus tempos juvenis (na 5 série), eu estudava à noite e trabalhava na roça, durante o dia. 

Acordava na madrugada, subia numa carroceria de caminhão e ia um tanto encolhido de frio ao olhar o amanhecer um tanto triste. Eu me recordo com um certo pesar, não pelo trabalho, mas por uma escolha errada que fiz, pois eu não precisava estar naquele caminhão.

Na verdade, trabalhei um bom período capinando culturas de feijão, milho, mamão, cana-de-açucar, também colhia os frutos; trabalhei num alambique e até numa carvoaria, esse último trabalho braçal foi um tanto traumático, pois tive um pedaço do dedo decepado por uma madeira. 

Imagem: @capixapedia - antigo Dunas Restaurante do Tião do Barão

No que se refere à escolha errada, fui um tanto sem sabedoria, pois o Tião do Barão me chamou para trabalhar em seu restaurante e por uma discussão com ele, deixei o trabalho. O local do restaurante, atualmente é a sede do Parque Estadual de Itaúnas. 

Lá, no restaurante, era um trabalho bem tranquilo e ainda passava bastante tempo conversando com a filha do Barão, a minha colega de classe, Fabrícia. Uma menina muito inteligente e educada (não falarei outras qualidades para não arranjar problemas. Quem não teve algo platônico na infância? Rsss). A Fabrícia era a CDF da escola. 

Por falta de visão futura e um tanto por minha ignorância, deixei o restaurante para retornar ao trabalho braçal. A Fabrícia tentou me convencer a não deixar o restaurante e o Tião foi até à minha casa se desculpar e me convidar para retornar. Mas, o orgulho e ignorância me impediram. Tolice de um garoto que não enxergou um pouco além. 

O Tião era um cara empreendedor e visionário. Fez altos investimentos em Itaúnas numa época quase desconhecida. Claro, que, como todo ser humano o Tião possuía defeitos e não era perfeito, mas fiquei um pouco desapontado pela forma como saiu vendendo todas as suas propriedades e migrou com a família para a capital, Vitória. 

Um dia até gostaria de reencontrar o Tião do Barão para agradece-lo por seu cuidado para comigo num incidente que aconteceu. Ocorreu um inchaço na parte testicular e fiquei bastante preocupado. Deve ter sido coisas da puberdade (rsss). 

Lembro-me como se fosse hoje quando o Tião foi até à nossa humilde casinha de estuque e com toda a atenção me examinou e orientou a minha avó a preparar algo. Ele até mencionou que quase se tornara médico. Aplicou repolho para aliviar a inflamação no local. Se este texto chegar até você Tião, muito obrigado por sua atenção! Espero um dia reencontra-lo. 

Nos meus descansos anuais é onde recarrego minhas forças


Tenho muitas outras histórias escritas e ainda outras para escrever sobre esse lugar fantástico chamado Itaúnas. Preciso tirar da gaveta e publicar as diversas crônicas. Inclusive de outras nativos que souberam empreender à medida em que a Vila se tornara ainda mais conhecida. 

É isso! Para concluir, Sêneca, o grande estóico latino ao citar um poeta desconhecido escreve:"A parte da vida que realmente vivemos é pequena", pois todo o resto da existência não é vida, mas apenas tempo."

O Deus Criador é um Ser pessoal e ama passar tempo conosco. Que os momentos que passamos com as pessoas, se tornem algo marcante, não importe o período. Porém, que guardemos na memória como se fosse algo bem presente. 

Ah, para quem não conhece Itaúnas é uma Vila no litoral norte capixaba que foi soterrada e tornou-se um mini-Saara banhado pelo Atlântico com Dunas que chegam a 30 metros de altura. Itaúnas Velha, como nós nativos aprendemos a chama-la com os nossos pais e avós, tem muitas histórias que pretendo publicar um dia. 

Boa leitura e que Deus te abençoe!

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