Religiões ideológicas

Imagem: El Pais 
 
Por Célio Barcellos 

A recente insegurança no Chile provocada por movimentos revolucionários que atormentam as ruas, incendeiam patrimônios e atingem a liberdade religiosa, têm deixado o país e o continente sul americano um tanto assustados e instáveis. Particularmente, no final dos anos 90, quase cheguei a me aventurar em direção ao Chile na busca de oportunidades, tamanhas eram as projeções econômicas e de prosperidade para o mesmo. 

Refletindo um pouco sobre os acontecimentos no Chile bem como em outros lugares da América Latina e também do mundo, me veio à mente associar a situação dos radicais atuais com o fundamentalismo ocorrido no Magreb. O nome Magreb denomina a região noroeste da África, composta por Argélia, Marrocos, Tunísia, Mauritânia e Líbia. Esse nome de origem árabe (Al-Maghrib), significa “poente" ou “ocidente” (ver pt.m.wikipedia.org). 

De acordo com Hans Borger, no livro Uma História do Povo Judeu (Sêfer, 2002), vol.2, p.141), “o triunfo do fundamentalismo islâmico dos almóadas (califado que dominou a região) em meados do século XII foi calamitoso, não só para os judeus mas para todo o Magreb, que deteriorou econômica e culturalmente. Muitos judeus foram convertidos à força ao islamismo e a prática do judaísmo foi para a clandestinidade. E, Borger ainda se refere a uma correspondência de autoria de Maimônides (uma das maiores autoridades rabinicas de todos os tempos) relatando a extrema pobreza que ele observou por ocasião de sua viagem entre a cidade de Fez no Marrocos e a cidade do Cairo no Egito. 


Claro, que o fundamentalismo não se restringe a um grupo em específico. Porém, a todo aquele que se utiliza da influência para perseguir, saquear, restringir liberdades e ferir o que a pessoa tem de mais sagrado que é a sua consciência, inclusive o seu direito de crença. Naqueles idos, os judeus eram o povo mais perseguido tanto por fundamentalistas católicos (políticos e religiosos) quanto islâmicos que brigavam por hegemonia. 

Em seu livro Sapiens: uma breve história da humanidade (L&PM Editores, 2019 p. 236), Yuval Noah Harari, menciona a ascensão que o mundo moderno teve das "religiões baseadas em leis naturais, como o liberalismo, o comunismo, o capitalismo, o nacionalismo e o nazismo”. De acordo com Harari, esses são “credos que não gostam de ser chamados de religiões e se referem a si mesmos como ideologias”. 

No entanto, para o professor Harari, a terminologia "é apenas um exercício semântico". O bom observador do contexto político atual, nota que o fundamentalismo não é somente atrelado a religiosos que ultrapassam os limites da racionalidade. Porém, aos muitos movimentos que em nome de suas causas, insistem em desestabilizar o mundo para conquistá-lo com as suas crenças/ideologias. Se antes o proselitismo estava no campo da religião, especificamente aos cristãos, hoje, ele está inserido nas novas facetas religiosas que o mundo moderno gerou. 

Para alcançar o seu objetivo, muitas das religiões ideológicas em seus movimentos fundamentalistas estão deletando os vestígios racionais que as confrontam. Até mesmo as mentes empíricas têm aderido às muitas crenças e estão relativizando o que antes era visto como verdade. Estão tratando opiniões pessoais como axiomas. Conscientes ou não, os seguidores das religiões ideológicas estão dispostos a destruir o passado imaginando ser possível construir um futuro melhor sem ele. São mensageiros de uma causa dispostos a saquear, pegar em armas e causar o caos em nome de suposta revolução. 

 

O que essas religiões/ideológicas não entendem é que num contexto humano, precisamos uns dos outros para construirmos um ambiente razoável para que possamos viver. Destruir igrejas e perseguir pessoas foge à racionalidade. Ir para as redes sociais e destruir reputações por exemplo, não deveria ser iniciativa de ninguém. Tentar ganhar no grito ou utilizar da violência, só fará lembrar do passado cruel que tantos querem apagar, mas que muitos teimam em ressuscitar em benefício de causa própria. Atitudes assim, deveriam ser rechaçadas por qualquer que fosse o grupo ideológico. Na civilização atual, o termo democracia deveria de fato ser respeitado. 

A Idade Média já se foi e as trevas da mesma continuam a aflorar no seio de muitos. A própria Bíblia mostra a situação do mundo e nos aponta uma esperança. O profeta Isaias há 2.600 anos escreveu: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o Senhor, e a Sua glória se vê sobre ti (Is 60:1,2). De fato, trevas estão cobrindo a terra. 

Mas o filhos e filhas de Deus neste mundo, devem irradiar a luz do evangelho. Devem colaborar ao máximo para um mundo de paz. À semelhança de judeus e cristãos que serviram de forma obrigatória em impérios que os oprimiam, os filhos e filhas de Deus nos tempos atuais devem exercer de forma livre as melhores escolhas para o bem do próximo e da pátria. Devem fugir das ideologias e das disputas acirradas do mundo real e do virtual. Portanto, que os servos e servas do Senhor não sejam fundamentalistas e nem impeçam qualquer cidadão de exercer os seus direitos, incluindo o de crença, pois o seu sólido fundamento é Cristo e o mundo que os aguarda. 

Esse mundo de paz que todo cristão anseia, passa longe de qualquer interesse sectário que as religiões naturais insistem em implantar e obrigar as pessoas a seguir. Lembre-se: Haverá um mundo de paz. Não pelo homem, mas pelo próprio Deus. 

Maranatha!
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