Falange do bem


Por Célio Barcellos
       Nenê, Célio e Toninho, um trio que na verdade se tornava um sexteto, quando a ele se uniam Rivelino, Noirzinho e Mazinho. Nenê era o chefe, o cabeça, o esperto do grupo. Não sei os demais, porém, por causa dele, apanhei muito em casa. O cara era o “cão chupando manga verde”. Não havia distâncias e obstáculos para o Nenê. 
Era aleijado em função de uma injeção aplicada sobre o nervo, a qual causou-lhe paralisia. Ele precisava andar de muletas. E com elas, hora de madeira, hora de alumínio percorria conosco longas distâncias. Ou melhor: nós quem percorríamos com ele, afinal ele era o chefe, o cabeça da tribo. Localidades como: João Batista, Therezinha, Zé Dias, chácara do Zé Basílio (essa nem se fala, pois estava dentro da Vila), eram locais das aventuras.
Um certo dia, chegara de Vitória um alemão desengonçado, por nome de Jerônimo, acostumado a andar de carro, ônibus, helicóptero, sem lá… o que sei é que ele, por influência do Toninho ou do Mazinho, resolveu se juntar àquela pequena turba e decidiu ir conosco ao João Batista. Chegando lá, estava ruim de frutas e somente havia cocos, porém, para quem não sabe, aquela chácara abandonada rodeada de eucalipto, possuía coqueiros enormes. 
O problema é que o alemão desengonçado não estava acostumado a andar no mato e logo apelou, pois estava cansados e morrendo de sede, como um cachorro com a língua para fora. Aí que foi o problema: E agora? Ninguém queria subir no coqueiro, pois era gigante. O alemão ficou nervoso, pois estava com sede e certamente com fome, queria de qualquer maneira me obrigar a subir no coqueiro.


Eu subia em coqueiro, mas sabia o meu limite. Aquele era enorme. O Rivelino também. Mas não me lembro se ele estava nesse dia. O Rivelino era tão danado, que a despeito de ter somente um braço (infelizmente, por uma picada de jararacuçu, perdeu o braço esquerdo). Ele tinha um cotoco de braço. Falávamos que a força do esquerdo havia passado para o braço direito. Um detalhe! O danado do Rivelino, além de subir em coqueiro e tantas outras estripulias, ainda rasgava o coco com os dentes. O chamávamos de "dente de cavalo".
Pois bem, o alemão estava vermelho, rosa, roxo…nervoso que só. Para nossa sorte, acho que o Mazinho subiu naquele jamanta de coqueiro. Foi minha salvação, pois o alemão se encrespou comigo e queria me bater. Nenê como sempre, tirava o dele da reta. E por ser aleijado, tínhamos pena dele. 
Confesso que apesar das estripulias, foram dias maravilhosos em nosso paraíso chamado Itaúnas. Parece que o tempo não passava. A nossa pequena Vila, se tornava grande em alguns momentos. Percorríamos longas distâncias para nos divertirmos rodeados por matas, rio, dunas e mar.  


Vivíamos como patos dentro d’água. O Nenê apesar da deficiência nas pernas e o Rivelino sem o braço, faziam coisas extraordinárias. Desde subir em árvores, pular da ponte, nadar e mergulhar como um boto. Fazíamos tudo isso com alegria de meninos. 
Confesso que tenho saudades, até das surras de minha vó, pois apanhei muito por pular da ponte, e especialmente por andar com o Nenê, pois ela tinha uma raiva quando me via carregando-o nas costas em direção ao rio. 
É isso aí! Nostalgias da infância. Quando retorno à minha terra, sempre encontro essas figuras. Damos gargalhadas pelas muitas histórias. Ah,! Com os avanços nos tratamentos, o Nenê praticamente não utliza muletas. Às vezes, utliza um apoio, mas praticamente anda sem esse auxílio. 

Um abraço a cada nativo dessa terra linda chamada Itaúnas!

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