O dipylon é para todos


Por Célio Barcellos
O dipylon era o portão de mão dupla que dava acesso a cidade de Atenas. Aos que iam e vinham podiam desfrutar da liberdade em transitar pela ágora e observar as retóricas entre sofista e epicureus, bem como ir na Acrópole com as suas intenções religiosas. Sem contar no Areópago, em que ao ar livre podiam sentir do alto, as impressões do horizonte enquanto ouviam a famosos discursos. O lugar era tão democrático que o próprio Apóstolo Paulo discursou ali (At 17 ).
Parece que no Brasil havia somente uma via. O dipylon brasileiro estava tão mal acostumado em receber por suas alamedas pessoas de pensamento uniforme, que na primeira onda libertária exigindo espaço para a outra via, gerou reações fortíssimas de quem supostamente defendia uma pseudo liberdade. Liberdade muitas vezes baseada em um pensamento ditatorial. 
Na verdade, a insistência na via de mão única não é somente no Brasil mas atinge todo o Ocidente. De acordo com Ben Shapiro, autor de “O Lado Certo da História”, o Ocidente está às portas de jogar fora valores indispensáveis em prol de uma subjetividade baseada no desejo irracional e egoísta. Para Shapiro, destruir o pensamento judaico-cristão é destruir fundamentos indispensáveis - “razão e sentido Divinos”, propagados há milênios por  "Atenas e Jerusalém". 

No que se refere ao dipylon brasileiro, quatro conglomerados de comunicação sediados no Sudeste, transitam livremente as alamedas sem concorrência há décadas no cenário nacional. Para Míriam Moraes, autora de “Política" e especialista em jornalismo político, a grande “influência da imprensa a serviço de partidos políticos lança por terra o discurso de isenção que ela insiste em atribuir a si, mas que sempre desmente por meio de sua linha editorial”. 
A situação ficou ainda mais latente com a chegada das redes sociais. Parece que os detentores da notícia e do poder, se enclausuraram em seus castelos sem se dar conta de que essa via de mão única estava dando lugar a uma outra via que na verdade, já existia, mas que poucos tinham a coragem de transitar por ela. Com os Guttemberg modernos fazendo o trabalho de formiguinhas na panfletagem, eis que a internet surge como os tipos móveis da liberdade. E é um caminho sem volta, mesmo que lancem alguns na fogueira da censura, das ameaças e das prisões. 

Ao que parece, os chamados progressistas quiseram dominar o dipylon com exclusividade. E qualquer pessoa que se aventurasse a pensar diferente, era taxada de fundamentalista e tantos outros adjetivos. Essa forma intimidatória só fez brotar numa maioria conservadora o grito de defesa aos valores que nortearam a construção do Ocidente. 
Por mais imperfeitas que sejam Atenas e Jerusalém, seria interessante defendê-las; assim como é interessante defender os pilares da imperfeita democracia. Atenas e Jerusalém poderiam até não se bicarem, uma vez que uma defende o Deus único e a outra diversos deuses. Porém, o respeito de ambas, ajudaram na construção de coisas que pavimentaram a civilização. 
Assim sendo, da mesma forma em que o Apóstolo Paulo pôde passar pelo dipylon, transitar pelas ruas de Atenas, observar os seus ídolos e ainda ter espaço para falar do Cristo, o cidadão brasileiro bem como os povos do Ocidente precisam ter o direto de transitar pelas alamedas da democracia com total liberdade. 
Cada cidadão é responsável por sua liberdade e deve estar sujeito às leis pelos próprios excessos que comete. Imagino que está na hora da εκκλησία (assembléia) se reunir na Pnyx para aprender com os antigos gregos. Aproveite e de uma ida até Jerusalém, para enriquecer ainda mais o aprendizado, pois Deus e razão sempre foram os principais pilares dessas cidades. Quem sabe no retorno, já poderemos ver mais pessoas transitando livremente pelo dipylon outrora exclusivo

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Comentários

  1. Parabéns pela brilhante analogia!

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  2. Respostas
    1. Ótima comparação, com uma análise tão racional quanto era a dos Gregos e principalmente do grande filósofo,teólogo e escritor Paulo.

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  3. Parabéns, ótima reflexão, uma realidade nas ideologias políticas apaixonadas. Como Paulo devemos falar com a mesma paixão do nosso Senhor e Cristo.

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