Odair, nativo que se foi...


Por Célio Barcellos
Na manhã desta quinta-feria (05), ao ligar para a minha mãe, recebi a triste notícia da morte do itaunense Odair José Camilo. Filho de Ângelo Camilo (vulgo Caboclinho) e de Neuza Camilo. Odair era um amigo de infância, colega de escola e parente distante. Quando nos encontrávamos, geralmente no verão, me cumprimentava como "primo" ou Celinho. Realmente uma perda lamentável!
De vez em quando me vem à lembrança muita coisa de minha infância na pequena Itaúnas e o Odair faz parte dela. Lembro-me de quando o primo Rives Bonelá conduzia o então pequeno Odair às pressas para Pedro Canário com fortes dores no ouvido. Na ocasião, minha saudosa vovó Valdimira e eu, estávamos indo a pé de Itaúnas a Pedro Canário. Já nos encontrávamos na Estiva e ele nos deu carona. 
À época, início dos anos 80, o Odair estava pálido, febril e reclamando de fortes dores. Também lembro-me de uma ocasião em que ele, eu e o Tachi (jovem turista australiano que nunca mais o vi), à noitinha, chutávamos uma bola e dávamos altas gargalhadas, pois o Tachi era desengonçado e muito perna de pau. Foram momentos maravilhosos próximo onde encontram-se o restaurante Lobo do Mar e as lojinhas. 
Também não tenho como me esquecer que foi através do Odair, o meu despertar pela música. Ele era um exímio tocador de violão e apaixonado por MPB, especialmente a música mineira. À época, apareceu um jovem músico de Belo Horizonte, por nome Eduardo (o Dú). Também nunca mais o vi. Sei que eu estava com o violão do Dú e com um certo ciúmes, o Dú exclamou: “Poxa Célio! Largue o meu violão, pois você não tem nenhum senso musical”.

Confesso que mesclou dentro de mim, uma certa raiva e ao mesmo tempo uma vontade de aprender a tocar violão. Foi quando perguntei ao Odair e o mesmo me vendeu um pequeno violão da marca “Tonante”. Nessa época eu já estava de mudança para Conceição da Barra. E lá em Conceição, à rua São Lucas, com a ajuda do Paulino em 3 meses eu estava tocando uma música. Também eu dormia com o instrumento musical.
Aos finais de semana quando eu ia a Itaúnas visitar os meus avós, sempre que dava certo, me reunia com o Odair para aprender algum dedilhado e uma música. Aprendi a gostar do 14 Bis, Flávio Venturini, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e tantos outros, com esse conterrâneo, camarada e primo chamado Odair. Lá em Conceição da Barra, conheci o Glauco Gazel, mineiro e tocador minucioso com quem aprendi a gostar de Geraldo Azevedo, Elomar, Xangai e Vital Farias. 
No início dos anos 90, por ocasião da Festa de São Pedro, num concurso de calouros, o Odair cantou e tocou numa guitarra de forma improvisada a música “Espanhola" do Flávio Venturini. Foi aplaudido! Não teve vergonha da multidão. Simplesmente cantou legal. 
Ainda estou estupefato com a notícia da sua morte. Não sei o que levou esse jovem nativo da nossa pequena Itaúnas a tomar uma decisão tão drástica. O fato é que devemos estar alerta a qualquer sinal depressivo numa pessoa. Nem se quer caçoarmos de alguém, pois não sabemos a estrutura emocional da mesma. Que eu tenho lembrança, esse é o terceiro caso na Vila. Jarbinha, Gilbertinho e agora Odair. 
Que o Senhor Deus conforte a família e a todos os nativos nesse momento difícil! Como vou a Itaúnas somente no verão, no próximo, se Deus me permitir estar com vida, não mais encontrarei Odair, mas espero poder dar um abraço na Poí, nos filhos e familiares do nosso saudoso nativo.

Comentários

  1. Às vezes ficamos sem palavras para podermos responder certas perguntas, e essa é uma delas. O porque? Ele fez isso. Deus receba esse filho em teus braços.

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