A importância do malaeiro



Por Célio Barcellos 

Na noite de segunda feira (4) fiquei bastante doente, com intensos calafrios, tosse, dores e febre. O corpo só pedia uma coisa: repouso! 
As dores eram horríveis. Os olhos não queriam ver a luz, pois causava incômodo; se os fechassem com uma certa rapidez e intensidade, me sobrevinha vertigens. 
Após ir ao médico, foi detectada uma virose (nome popularmente conhecido para falta de diagnóstico).

Com o avanço de terríveis doenças como dengue, chikungunya e zika, não tive como não pensar no "malaeiro", ou "o homem da malária", "o guarda da Sucam" como era conhecido.

Quem não se lembra dele? Daquele homem que, com a sua mala pendurada nos ombros, batia à porta e cumpria o seu trabalho. Não havia distâncias ou obstáculos impeditivos à missão. A bordo de um  "Ford Williams" passava dias longe de casa. Nos interiores, dormia ao relento; no próprio carro; na rede ou até mesmo num "cocho de farinha" para se abrigar do frio. 

Esse homem era um verdadeiro "bandeirante" à procura não de diamantes, mas de insetos que tiravam o bem mais precioso das pessoas - a vida.

Pois é.... O malaeiro! Um sujeito sem formação acadêmica, mas especialista em vida. Era um "apóstolo" da saúde que ia onde tinha gente. Com seu traje característico estampava (CEM, SUCAM ou FUNASA). Com ele vinha o sorriso, mas também ficava o choro. O choro da saudade e também do furinho no dedo que era encostado numa lâmina para coletar o sangue.

Pois é... O malaeiro! Cadê esse sujeito com a sua mala? Como ele tem feito falta! Ele era parte da família! Ao adentrar na casa, as pessoas não tinham medo. Era tão fiel ao dever que atrás da porta deixava a sua marca. Uma espécie de ponto, de controle de qualidade, de satisfação ao cliente, ou melhor: de satisfação ao patrão que era o próprio povo a quem ele visitava.

Pois é... O malaeiro! Onde estará? Há alguns remanescentes e são poucos. Quase extintos! Mas existem! Dos que vi trabalhando, um está na ativa e reside no Distrito de Braço do Rio/Conceiçao da Barra-ES. O nome dele? Luiz do Rosário. Na ativa há 42 anos e muito útil ao Estado do Espírito Santo no controle e combate das endemias; Sr. Veiga, residente em Rondônia, o qual me presenteou com o livro: "A malária e o malaeiro", (de Antônio Serafim da Silva que conta a saga dos agentes em Rondônia) e três que já se foram: Mercino de Braço do Rio, Jazone de Pedro Canário e Jorge Andrade dos Santos (o Jojó) de Conceição da Barra.

Pois é... O malaeiro! Ao invés de condecorá-lo, querem extingui-lo. Sabe-se lá o porquê. Se por inveja ou mesquinhez. Talvez incomodava a alguns o fato dele possuir um salário federal e trabalhar a finco e sem burocracias.

Pois é... O malaeiro! Se mostrou mais eficaz do que o novo modelo. Sua metodologia parece ser superior a atual. O trabalho era efetivo e de resultados eficazes. Ele não dava tréguas aos vetores. Tanto que a malária praticamente foi controlada. 

Pois é... Será que o substituto do malaeiro está à altura da demanda da população? Será que o mesmo é remunerado como deve? São exigidos relatórios e produtividade no trabalho? Estou morador de Vitória há quatro anos, e não recebi a visita de nenhum agente nesse período. Minto! Exceto uma única. Pode ser equívoco da minha parte, mas falta a "disposição" do malaeiro. 

Pois é... Que saudades do malaeiro! Uma espécie em extinção que precisa urgente de um repensar federal. 

Ah,! Se porventura esse texto estiver nas mãos de um aluno que queira um tema para o Término de Conclusão de Curso (TCC), eis uma sugestão: "A Importância do Malaeiro Para o Controle de Endemias que Assolam a População". Ajude a salvar essa preciosa espécie antes que ela desapareça do mapa!

Comentários

  1. Boa tarde. Conheci dois desses heróis. Um ainda vive e mora em Colatina. O NOME DELE JACIEL MELLO. UM ABRAÇO.

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    1. Olá amigo Belo! Obrigado por apreciar o blog. Desculpe a demora na resposta. Fica tranquilo que não irei demorar mais assim. Estava sem saber como responder. Um abraço!

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  2. Puxa, que homenagem bacana!! Realmente aquele que valoriza o seu trabalho e o executa com retidão deve ser condecorado por todos em forma de gratidão e reconhecimento do seu valor...simples assim...

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